Siderúrgicas e metalúrgicas do Vale do Aço (MG) investem em novos produtos e em novas tecnologias para reverterem cenário negativo.

Influenciadas negativamente, sobretudo, pelos setores automobilístico, eletroeletrônico e da construção civil, siderúrgicas e metalúrgicas da região do Vale do Aço enfrentam desde 2013 a queda da demanda interna por ferro e aço. O consumo aparente de produtos siderúrgicos no Brasil fechou 2016 com uma redução de 14,4%, enquanto as vendas internas encerraram o ano passado em 16,5 milhões de toneladas, uma baixa de 9,1%, segundo o Instituto Aço Brasil. Responsável pela maior produção brasileira de aço bruto (36%) e de laminados (34%), Minas Gerais terminou o último ano também com retração no PIB (-3,3%) e na produção industrial (6,2%), de acordo com levantamento da Tendências Consultoria Especializada. E, numa tentativa de reverterem esse cenário negativo, empresas da região do Vale do Aço (MG) têm investido em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos produtos de aço, assim como no atendimento a novos setores.

Conforme o presidente da Regional da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) no Vale do Aço, Luciano Araújo, destaca, observa-se esse movimento nas empresas ligadas à indústria metalúrgica, que, agora, investem na ampliação da oferta de produtos. É o caso, por exemplo, da Emalto, que, desde 2014, vem diversificando as áreas atendidas e, em 30 dias, dará início à produção de peças para o setor eólico. “Estamos implantando a Emalto Energia, no Distrito Industrial de Santana do Paraíso, também no Vale do Aço, onde fabricaremos equipamentos mecânicos de transmissão e multiplicação de giro, flanges, acopladores de pás, berços de aerogeradores, chumbadores de torres, entre outros itens. Temos a vantagem de estarmos mais próximos do consumidor final, o parque eólico do Nordeste brasileiro”, destaca o diretor-administrativo da empresa, Alexandre Torquetti.

Atualmente, segundo dados da Aneel/ ABEEólica, o Brasil possui capacidade eólica instalada de 10,60 GW, uma participação de 7,1% na produção energética.

Até 2020, a produção nacional chegará a 18GW, o que demonstra amplo espaço para o crescimento nessa área.

Em outra frente, a empresa investe no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no setor de óleo e gás (O&G). Trata-se de uma spin-off tecnológica – nascida dentro do parque tecnológico – que busca inovações no segmento e que dará acesso direto aos laboratórios de um dos mais respeitados centros tecnológicos do mundo, localizado na UFRJ. A partir disso, de acordo com a empresa, foi possível, por exemplo, a participação na concorrência do Edital Brasil Noruega, para o desenvolvimento de tecnologias voltadas ao setor petroleiro.

A multinacional Aperam South América já conta com um quarto do resultado financeiro da companhia baseado em projetos P&D

ESFORÇOS CONJUNTOS

No sentido de dar suporte a empresas com interesse nesse tipo de projeto, o presidente regional da Fiemg destaca o investimento de R$ 500 mil, um aporte disponibilizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a criação de um laboratório, ainda em fase inicial, dedicado ao desenvolvimento de produtos que possam ser usados na manutenção das máquinas utilizadas pelas grandes empresas da região. A ideia é que empreendedores ligados ao Sindicato das Empresas de Metal-Mecânica da região (Sindimiva) visitem as grandes âncoras, como a Usiminas, e façam um levantamento de peças importadas que possam ser produzidas por eles. “É um projeto ainda em teste. Busca garimpar oportunidades e fazer um link entre as pequenas e médias empresas (PMEs) e a indústria pesada, resultando na geração de empregos e na diversificação do mercado regional”, informa Araújo.

Com o sucesso dessa primeira fase, o laboratório deverá se tornar um centro de engenharia, mais amplo e completo, que irá viabilizar o desenvolvimento de inúmeras pesquisas, produtos e soluções. Recentemente, por exemplo, segundo Araújo, a equipe identificou em São Paulo a possibilidade de atender a uma demanda do setor ferroviário do Estado: um mecanismo usado nas ferrovias para mudar a linha das locomotivas e que será produzido por empresas ligadas ao Sindimiva.

FOCO EM TECNOLOGIA

Empreendimentos de grande porte estão indo no mesmo caminho, mas focados na produção mais tecnológica e com maior valor agregado. Entre elas, a multinacional Aperam South América, que já conta com um quarto do resultado financeiro da companhia baseado em projetos P&D. O mais novo produto é um tipo de aço elétrico de grão super- orientado de maior permeabilidade. Foram investidos aproximadamente 19 milhões de dólares entre pesquisas e a implementação da linha de produção, em Timóteo (MG). Conforme o presidente da Aperam South America, Frederico Ayres Lima, salienta, o desenvolvimento e a fabricação desse novo aço facilitarão a logística, reduzirão o consumo de insumos para sua produção e sua manutenção e ainda terão maior valor de mercado em revenda. “A produção no Brasil agrega valor também na relação com os clientes, uma vez que a proximidade com o mercado assegura maior agilidade na entrega e na assistência técnica”, completa.