Mariana: três anos após o rompimento da barragem

Ações de recomposição vegetal em área atingida pelos rejeitos. Foto: Lincon Zarbietti.

Acidente em estrutura da Samarco, completa três anos nesta segunda-feira (5).

O dia 5 de novembro sempre será lembrado pelos moradores de Mariana (MG) como a data de uma das maiores tragédias ambientais do município e, também, do país. O rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, provocou prejuízos ambientais no Rio Doce, onde os rejeitos de mineração caíram, na biodiversidade local, e resultou na morte de 19 pessoas. O distrito de Bento Rodrigues, destruído pela lama, hoje é reconstruído e leva um pouco de esperança às famílias que perderam tudo após o acidente.

O fato também impactou na economia do município, como já se sabe, devido à interrupção das atividades da Samarco. De acordo com o prefeito, Duarte Júnior, a cidade perdeu R$ 65 milhões em arrecadação em um ano, além de redução do repasse do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS): dos R$ 11 milhões anteriores à tragédia, agora esse valor chega a R$ 6,5 milhões.

Para ele, o retorno das operações da mineradora é essencial para o município, que tem a mineração como fonte econômica principal. “O retorno vai gerar emprego, condição financeira para os moradores que, voltando a trabalhar, vão fazer a economia girar novamente”, salientou.

A expectativa é que a Samarco retome a produção em 2020, com um terço da capacidade. A afirmação foi do presidente-executivo da Vale, Fabio Schvartsman, empresa dona da Samarco, junto com a australiana BHP Billiton, à Reuters no dia 16 de outubro.

Uma das possibilidades para a retomada é a construção da Cava Alegria Sul, onde ficarão os rejeitos de mineração. As obras iniciaram na primeira semana de outubro e devem ser concluídas em cerca de dez meses. Em nota, a Samarco informou que o local terá capacidade para receber 16 milhões de metros cúbicos e será utilizado para disposição de rejeitos de minério. A cava é uma estrutura resultante do processo de lavra. Como possui formação rochosa e estável, permite a contenção segura do rejeito a ser depositado, conforme a empresa.

“O início das atividades de implementação do novo sistema de disposição de rejeitos é um passo fundamental para a retomada das nossas operações. A Cava é um local confinado, o que confere ainda mais segurança”, afirmou o diretor-presidente da Samarco, Rodrigo Vilela.

Complexo de Germano, onde estão sendo realizadas as obras de preparação da Cava Alegria Sul. Foto: Samarco/ Divulgação.

Para voltar a operar, a Samarco ainda depende do Licenciamento Operacional Corretivo (LOC) do Complexo de Germano. O processo foi protocolado em setembro de 2017 e visa regularizar todas as licenças de Germano, suspensas em outubro de 2016 pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad).

Conforme previsto no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do LOC, a Samarco planeja implantar a filtragem de rejeito arenoso, que corresponde a 80% do total de rejeitos gerados após o beneficiamento do minério de ferro, e o adensamento de lama, que representa os outros 20%. Com o empilhamento dos rejeitos arenosos e disposição da lama adensada, a Samarco ampliará a vida útil da cava de 20 meses para sete anos.

Auxílio aos atingidos

Atualmente, 391 famílias atingidas diretamente pelo rompimento nos distritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira (este último, no município de Barra Longa) moram em casas alugadas pela Fundação Renova, órgão criado pelas empresas envolvidas no acidente por meio de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), para mitigar os efeitos do acidente.

O distrito de Bento, local mais atingido pela tragédia, onde 225 famílias ficaram desabrigadas, começou a ser reassentado em agosto, em novo terreno escolhido pela população. As famílias estão se reunindo com arquitetos para desenhar suas casas. A previsão é que as obras sejam finalizadas em no máximo dois anos.

Os moradores de Paracatu de Baixo e Gesteira também serão reassentados. No primeiro caso, o projeto urbanístico já foi aprovado com 97% dos votos em setembro. No segundo, o Plano Popular de Reassentamento foi aprovado em abril. A negociação para compra do terreno onde Gesteira será reconstruída está sendo finalizada.

“O programa de reassentamento tem como missão restabelecer os modos de vida e a organização das comunidades que perderam suas casas pela passagem do rejeito após o rompimento da barragem de Fundão. Seu principal objetivo é garantir que as moradias e as áreas públicas atendam às necessidades levantadas pelos futuros moradores, preservando seus hábitos, relações de vizinhança e tradições culturais e religiosas”, destacou a Renova, por meio de nota. Os valores a serem investidos não foram informados.

Já no que se refere a indenizações e auxílios financeiros dos demais atingidos, a Renova informou que liberou mais de R$ 1,2 bilhão. No total, 10.906 famílias foram atendidas pelos danos gerais sofridos, sendo que 7.527 indenizações foram pagas, somando mais de R$ 314 milhões.

Outo tipo de benefício é o programa de auxílio financeiro emergencial, que assiste atualmente 10.777 famílias, representando 25.123 pessoas atingidas. Essas pessoas recebem mensalmente o valor correspondente a um salário mínimo, acrescido de 20% por dependente e o montante equivalente a uma cesta básica do Dieese.

Meio ambiente

As ações de recuperação ambiental também estão encaminhadas, conforme informações da Fundação Renova. A começar pelos rios Doce e Gualaxo, principais atingidos pela lama da barragem, nos trechos compreendidos entre Minas Gerais e Espírito Santo.

Conforme explica a gerente socioambiental da organização, Sara Sales, os trabalhos foram voltados, inicialmente, para entender como o rejeito passa a reagir com o meio ambiente. Com base nisso, foi elaborado o plano de manejo de rejeitos, aprovado no ano passado e já realizado em 17 trechos ao longo da calha do rio Doce, sendo que os trechos entre a barragem de Fundão e a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga).

“O plano caracteriza o ambiente para elaborar uma ferramenta do que fazer e propor tecnologia a serem aplicadas, que possam ter algum resultado na qualidade da água”, explicou.

O trabalho também foi realizado nos córregos afetados que desembocam no rio Gualaxo. “Em alguns deles, a lama adentrou. Fizemos trabalhos de melhoria da passagem dessa água para dentro do rio, sem contato com os rejeitos. Esses córregos também são importantes porque eles também alimentam os rios com biodiversidade, espécies nativas de peixes, entre outros”, disse.

De acordo com Sara, os índices mostram que os padrões do rio estão retornando para os que eram antes do rompimento da barragem. “Já vemos sinais de melhoria muito interessantes. No período de seca o rio apresenta qualidade de água semelhante ao período anterior ao do acidente, tanto na turbidez, quanto na composição química”, ressaltou.