Gustavo Roque, coordenador do Mining Hub e gerente de Gestão e Inovação da Ferrous, fala mais sobre o primeiro espaço colaborativo que visa levantar projetos inovadores para a mineração.
No dia 17 de janeiro foi inaugurado, em Belo Horizonte (MG), o primeiro Hub de Mineração (Mining Hub) do país, que vai reunir 14 mineradoras, startups, parceiros, entre outros, na busca por soluções de inovação para o setor. No total, R$ 6 milhões serão investidos no primeiro ano do Hub.
As mineradoras participantes propuseram temas como Segurança (Operacional e SSO – segurança e saúde ocupacional); Gestão da Água; Fontes de Energia Alternativa; Eficiência Operacional; e Gestão de Resíduos. Durante ciclos trimestrais, as empresas participantes vão escolher startups que apresentem soluções para desafios ligados a essas áreas.
Empresas e startups que têm interesse em desenvolver projetos, podem se inscrever até o dia 25 de janeiro clicando aqui. No início serão selecionadas 14 propostas. No entanto, a cada três meses haverá novos processos, dando sempre oportunidades a outras startups.
Em entrevista ao portal da Revista Mineração & Sustentabilidade, o coordenador do Mining Hub e gerente de Gestão e Inovação da Ferrous, Gustavo Roque, dá detalhes sobre o projeto.
Revista Mineração & Sustentabilidade: Como vai funcionar esse trabalho?
Gustavo Roque: Hoje abrimos ciclos trimestrais e atualmente temos 14 desafios. São cinco desafios macros: gestão da água, gestão de resíduos e rejeitos, eficiência operacional, segurança e fontes de energias alternativas. Eles foram quebrados em micro desafios e cada empresa estipulou um. Colocamos esses 14 desafios no mercado e as startups vão sugerir soluções que, se adaptadas, podem servir para nossos problemas. Algumas mineradoras disponibilizam o aporte financeiro para que possam adaptar aquela solução para a própria realidade. As empresas não têm propriedade intelectual sobre essa sugestão e as startups não ficam devendo às companhias. Só queremos tentar ajustar aquilo para nossa solução o mais rápido possível. Essas startups vão ficar dentro do Mining Hub, junto com as mineradoras e os parceiros. Durante esse período elas vão ficar em contato com os engenheiros das companhias, que vão ajuda-las a desenvolver a solução deles. É um capital intelectual que talvez eles não tivessem acesso em outro cenário. Pode ser que, ao final de três meses, aquela solução não atenda à mineradora, mas a startup terá um ganho muito grande por ter tido esse capital intelectual para desenvolver aquela solução.
M&S: Qual é o pioneirismo desse projeto?
Gustavo: Tudo tem sido feito de uma forma bem diferente. Nós pesquisamos, procuramos, e não há registro de uma iniciativa como essa. O ecossistema de startups voltadas pra mineração ainda é muito incipiente, mas o primeiro passo nós já fizemos, que foi criar esse espaço. Existe um mercado muito grande que está aberto e se você investir tempo e desenvolvimento, tem quem compre.
M&S: As startups já estão desenvolvendo os projetos ou haverá uma seleção?
Gustavo: O processo estava aberto até 11 de janeiro e a gente prorrogou para até o dia 25 (as inscrições são feitas no site do Mining Hub). Nesse momento, já temos mais de 200 startups cadastradas no programa. Depois, vamos fazer uma seleção dessas startups para ver quem vai ficar nesse ciclo trimestral com a gente. Vamos começar com 14 startups nesse primeiro trimestre. Mas quando começamos, éramos 12 mineradoras. No próximo ciclo, sendo 22 empresas, isso tende a aumentar. Como cresceu muito rápido, já estamos com a dificuldade de espaço físico. Por isso, estamos conversando com o We Work para ver uma possibilidade de ampliação do espaço.
M&S: Cada startup escolherá um tema ou haverá várias trabalhando em cima de um mesmo?
Gustavo: Cada desafio, dos 14, terá uma startup. O que estamos planejando é fazer um modelo de hackathon (maratona de programação), que é propor um desafio e eles ficarem 48 horas no espaço tentando encontrar uma solução. Obviamente não seria a solução final, mas um protótipo. São ideias que vamos fazer ao longo deste ano.
M&S: A ideia do Hub de Mineração partiu da Ferrous?
Gustavo: Surgiu dentro da Ferrous. Dentre as mineradoras que estão representadas aqui, a Ferrous está da metade para baixo de porte. Já havíamos começado alguns movimentos de inovação e troca de experiências com Vale, CSN, Gerdau. Em fevereiro de 2018, conversando com o Jayme Nicolato, nosso CEO, a ideia foi: por que não tentamos alavancar essa colaboração, usando a inovação como um pilar de transformação do setor? Ele topou na hora. A medida que eu ia conversando, principalmente com essas empresas, a receptividade era muito positiva. Até que procuramos o Ibram, onde o projeto foi apresentado para o conselho onde há mais oito empresas e conseguimos acelerar bastante esse processo.
M&S: Existe uma diretoria específica para o Mining Hub?
Gustavo: Não. Fizemos tudo da forma mais simples possível. Trouxemos o Ibram justamente para acelerar essa prática burocrática. O Instituto intermedia os contratos, pagamentos e oferece todo o apoio e suporte aos envolvidos. A gestão é diferente. Temos três representantes de três mineradoras – Ferrous, Nexa e Vale, e esse grupo gira ao longo de três anos. Eu sou o coordenador atual e já temos os outros dois próximos coordenadores. No ano que vem eu deixo o cargo e fico como coordenador passado, um sobe e ainda fica um futuro. Com isso a gente mantém o comprometimento com a continuidade do trabalho.
M&S: Quais os outros diferenciais desse projeto?
Gustavo: Um aspecto sobre o qual tomamos muito cuidado é que aqui terão empresas muito grandes e menores, e empresas que estão no limiar da tecnologia bem avançado, enquanto outras não. Um dos papeis do Hub é fazer com que todo mundo ande na mesma velocidade, que a gente colabore com tecnologias que já foram utilizadas. Eu já tive acesso a estudos que a Vale fez, já compartilhei estudos com a CSN. São sempre estudos e soluções não competitivas, mas pré-competitivas, que nos auxiliam numa operação mais segura. Estamos falando de segurança, água, energia, eficiência operacional e rejeitos, que são problemas comuns às nossas operações.
M&S: Há também uma mudança de cultura que vocês pretendem promover com este espaço, correto?
Gustavo: Entendemos que aqui a inovação não será somente tecnológica e nem de processo. Teremos uma inovação cultural e comportamental, de entender porque os millenials não querem trabalhar com a gente. Como podemos lidar com essas transformações comportamentais? E o motivo que eu escolhi o We Work foi o seguinte: é uma rede global que está espalhada em 280 pontos do mundo. Eles têm contato com essas transformações muito constantemente. Um exemplo que eu gosto de dar é que em junho eu estava em Tel Aviv e fomos fazer um webinar com os parceiros sobre um projeto. Eu estava sentado em uma sala igual a essa do We Work e num canto tinha uma sala escrito ‘Sala da Nova Mamãe’. Era um espaço para a mulher que teve bebê há pouco tempo ir lá amamentar o filho em um ambiente adequado, com temperatura controlada. Ou seja, incentivava a levar o filho para o trabalho, além de dar as estruturas para isso. E eu pensei: por que a gente não pode fazer essas coisas? Outro diferencial é que aqui é pet friendly, onde a pessoa pode vir trabalhar e trazer o animal de estimação. Este prédio em todos os andares tem profissionais de outros ramos. Há um happy hour e lá você tem contato com essas pessoas, podendo trocar experiências.