“Não estamos falando de um grande choque na demanda agora. É algo pequeno”, observa o diretor-presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo.

Para o comandante de uma das maiores companhias mineradoras do mundo, “o minério de ferro não está prestes a iniciar um novo superciclo”. Ele acredita que a demanda pelo insumo usado na produção do aço vai se nivelar em dois anos. Eduardo Bartolomeo, diretor-presidente da Vale, disse que a alta recorde nos preços do minério de ferro no último ano é muito diferente do “boom” do começo dos anos 2000, que foi motivada pela industrialização acelerada da China.

“No último superciclo tivemos a urbanização na China. Foi uma mudança estrutural. Um choque de demanda”, disse ele ao “Financial Times”. “Não estamos falando de um grande choque na demanda agora. É algo pequeno. Não se trata de um choque.”

Mas ele acrescentou que com as grandes economias mundiais acelerando e os produtores de minério de ferro operando perto da capacidade máxima, os preços continuarão altos até 2023.

“Embora muito se fale sobre cortes, a produção ainda está aumentando na China e agora temos a Europa voltando e os EUA anunciando um enorme pacote de estímulo. Há também restrições na oferta. Esse mercado ficará apertado por um tempo. Pelo menos por dois anos”, disse ele.

O minério de ferro liderou um grande aumento nos preços das commodities no último ano, subindo mais de 150% para o recorde superior a US$ 230 a tonelada na semana passada, principalmente em razão da forte demanda de companhias siderúrgicas da China. Depois, o preço recuou um pouco e nesta segunda (17) foi cotado a US$ 217.

Com a produção de aço da China em expansão, analistas acreditam que os preços conseguirão permanecer em torno dos níveis atuais, mas observam que o mercado será altamente volátil.

O desempenho turbinado do minério de ferro tem sido muito bom para grandes produtores como a Vale, que precisam de um preço de apenas cerca de US$ 50 a tonelada para atingir o ponto de equilíbrio.

Isso vem estimulando o discurso de um novo superciclo das commodities – um período prolongado em que os preços permanecem acima de suas tendências de longo prazo e que geralmente é desencadeado por um impulso estrutural à demanda que a oferta não consegue responder com velocidade.

Depois do trágico rompimento da barragem B1 em Brumadinho (MG) há dois anos, que matou 270 pessoas, a maior parte funcionários e empreiteiros da companhia, a Vale foi forçada a reduzir a produção.

Sua produção caiu de planejadas 400 milhões de toneladas/ano para cerca de 300 milhões de toneladas em 2019 e 2020, e a companhia perdeu sua posição de maior produtora mundial de minério de ferro para a Rio Tinto, que conseguiu produzir cerca de 330 milhões de toneladas em cada um dos últimos dois anos.

Bartolomeo disse que em algum momento a Vale terá de aumentar a produção para 400 milhões de toneladas porque o minério de ferro é um “negócio de custos fixos altos”. Entretanto, ele disse que a companhia fará isso de uma “maneira muito calculada”, cuidadosa e segura.

Erik Hedborg, analista da consultoria CRU, diz que a jornada da Vale para as 400 milhões de toneladas levará tempo porque ela exige o “reinício de muitas minas, que passarão por vários processos de licenciamento complexos”.

Bartolomeo disse que no médio prazo – de 2025 a 2030 – a Vale espera uma redução da demanda da China por minério de ferro por causa do aumento do uso de sucata nos fornos.

“Todo mundo fala da economia circular. A sucata chegará à China. Ela terá de chegar. Veremos uma menor demanda de minério de ferro pela China.”

Bartolomeo disse ainda que haverá também uma mudança para um minério de ferro de qualidade superior na medida em que a indústria siderúrgica tenta reduzir as emissões, partindo para métodos menos poluentes de produção de aço, como a produção baseada no hidrogênio.

“Todos os caminhos levam para um minério de ferro de alta qualidade e a Vale está muito bem posicionada para isso”, finalizou.

 

Por Financial Times.