Iniciativa vai gerar primeira compra de créditos de carbono florestais de alta integridade pela companhia via mecanismo de REDD+.
A Vale, por meio do Fundo Vale, e o Grupo Algar, por meio da Algar Farming, acabam de fechar um contrato para compra de créditos de carbono florestais de alta integridade. Com prazo para vigorar até 2030, o acordo definiu a compra pela Vale, concretizada no fim de 2022, de cerca de 133 mil créditos, o que equivale à proteção de aproximadamente 50 mil hectares de floresta neste ano. Cada unidade de crédito de carbono corresponde a mil toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2) que deixou de ser emitida na atmosfera.
Segundo a Vale, a partir de 2023, a intenção é fortalecer a parceria com a implementação de ações e investimentos de impacto socioambientais adicionais ao carbono. Trata-se do primeiro projeto de REDD+ a integrar a estratégia da meta florestal da empresa, que visa recuperar e proteger voluntariamente 500 mil hectares até 2030.
O REDD+ é um mecanismo que tem o objetivo de recompensar financeiramente empresas e países que mantenham estoque de carbono por meio de manejo sustentável de florestas ou reduzam emissões de gases de efeito estufa derivadas de desmatamento e degradação florestal.
O projeto de REDD+ do Grupo Algar está localizado na Fazenda Pacajá, braço florestal da Algar Farming, na mesorregião do Marajó, no Pará. A escolha veio a partir de um levantamento realizado pelo Fundo Vale de mais de 60 iniciativas.
“Deste total, cinco ficaram no radar do Fundo, que escolheu o projeto da Fazenda Pacajá pelos impactos socioambientais gerados, a preocupação com os co-benefícios e pelo olhar de longo prazo para o território”, comenta Gustavo Luz, gerente de participações do Fundo Vale.
O projeto de REDD+ do Grupo Algar visa conservar e evitar o desmatamento não planejado de uma área de mais de 140 mil hectares de floresta nativa no bioma Amazônia. Estima-se que em 30 anos de duração do projeto, será possível evitar a emissão de aproximadamente 40 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.
O projeto se encontra na fase final de registro pelo VCS (Verified Carbon Standard, padrão de qualidade mais utilizado para contabilização de carbono e um dos mais confiáveis no mercado voluntário) e Social Carbon (padrão de avaliação e monitoramento de co-benefícios, aplicado em conjunto com padrões de contabilidade de carbono).
“Após a conclusão do registro do projeto pelos padrões VCS e Social Carbon, buscaremos obter o selo CCB (Climate, Community & Biodiversity), que é um padrão que demonstra que o projeto aborda, simultaneamente, a mudança climática, apoia comunidades locais e pequenos produtores e conserva a biodiversidade”, explica Arthur Rodovalho, head jurídico e compliance da Algar Farming.
Além do manejo florestal sustentável executado na Fazenda Pacajá, é realizado o monitoramento da fauna, o qual recentemente recebeu o certificado Onça Pintada, concedido pelo Instituto Onça Pintada a empreendimentos que promovem a conservação do felino no país.
Além disso, a Fazenda Pacajá mantém um dos projetos de manejo florestal mais relevantes da Amazônia brasileira, certificado pelo CERFLOR (Programa Brasileiro de Certificação Florestal, reconhecido internacionalmente pelo Programme for the Endorsement of Forest Certification PEFC).
Para Luciana di Paula, executiva de florestas da Algar Farming, “o manejo florestal sustentável prioriza a permanência da floresta em pé, já que sua existência é o que garante a sobrevivência econômica da atividade florestal, bem como possibilita que as populações nativas vivam dos recursos proporcionados pela própria natureza, evitando sua derrubada e contribuindo para que a floresta seja preservada, ao mesmo tempo que lhe confere um valor econômico. Uma floresta bem manejada continuará oferecendo suas riquezas para as gerações futuras, pois a madeira e seus demais produtos são recursos naturais renováveis”.
Carbono de Impacto
Para chegar em soluções com maior impacto socioambiental na meta florestal da Vale, o Fundo Vale realizou um estudo profundo. A ideia foi contemplar a proteção da floresta em si, a geração de créditos de carbono e ações efetivas para o combate ao desmatamento na Amazônia. Além disso, foram consultados alguns dos mais importantes especialistas sobre o tema no Brasil a fim de apoiar a estratégia de forma a gerar maior adicionalidade para o tema.
Este estudo permitiu ao Fundo Vale iniciar o fomento a projetos de REDD+. “O Fundo pretende apoiar o crescimento do mercado de carbono a preço justo que seja atraente ao consumidor, justo com o desenvolvedor, mas, sobretudo, que o benefício do carbono seja revertido para quem vive da floresta e ajuda a protegê-la, o que chamamos de Carbono de Impacto”, explica Luz.
Esse novo projeto e parceria ampliam os co-benefícios entre o Fundo Vale e o Grupo Algar para além da compra de créditos de carbono florestais. No contexto socioambiental, o REDD+ contribui no monitoramento da biodiversidade na região e atuação, evita o desmatamento, impulsiona ações que contribuem para a subsistência das comunidades a partir do investimento econômico, social e ambiental.
“Queremos trazer nosso conhecimento no desenvolvimento de cadeias e investir recursos de fomento nessas comunidades para auxiliar em um aspecto comunitário, no qual a compra de crédito de carbono seja mais um dos componentes que estão ajudando a manter a floresta em pé, transformando o território e a qualidade de vida dos moradores”, explica Helio Laubenheimer, especialista do tema no Fundo Vale.
Fazenda Pacajá
A Fazenda Pacajá é uma das maiores áreas de manejo florestal sustentável no país. Localizada no norte do estado do Pará, nos municípios de Portel e Bagre, atende aos requisitos legais de manejo sustentável como instrumento de conservação e preservação de florestas nativas. Todas as árvores da propriedade localizadas dentro da respectiva Unidade de Produção Anual (UPA) são inventariadas e georreferenciadas.
Após a colheita florestal, os produtos recebem um QR Code, possibilitando a identificação da espécie e sua respectiva localização, além de garantir a rastreabilidade e transparência do manejo florestal. A atividade se baseia em uma colheita florestal de baixo impacto ambiental, sendo proporcional à taxa de regeneração florestal, com o mínimo impacto ambiental sobre o ecossistema.
Além dos benefícios gerados pelo desenvolvimento do manejo florestal sustentável, o projeto REDD+ do Grupo Algar contribui para a conservação a longo prazo da região, ao mesmo tempo que estabelece uma barreira contra o avanço do desmatamento, tornando-se uma importante ferramenta para contribuir com a conservação da biodiversidade da Amazônia.
E, também, além de contribuir para o uso sustentável da floresta e para mantê-la de pé, atualmente são desenvolvidas ações socioambientais em cinco comunidades locais, incluindo, dentre elas, uma comunidade quilombola. São também realizadas ações sociais que promovem o exercício da cidadania, bem como oficinas de geração de renda alternativa a partir de práticas sustentáveis.
Meta Florestal Vale 2030
Em 2019, a Vale se comprometeu com uma meta socioambiental ambiciosa que consiste em proteger e recuperar 500 mil hectares de áreas além das fronteiras da empresa até 2030. Assim, se iniciou um movimento para alavancar a agenda de recuperação e proteção de florestas, coordenado pelo Fundo Vale.
Desse montante, 400 mil hectares são de proteção, via parcerias com Unidades de Conservação e Projetos de REDD+. Os outros 100 mil hectares são voltados à recuperação de áreas por meio de uma rede de negócios regenerativos parceiros e outras soluções de impacto positivo, que têm a premissa de gerar renda e emprego, fomentando cadeias produtivas sustentáveis ao longo do processo de recuperação dos biomas e permitindo o sequestro de carbono da atmosfera.
Em 2022, foram desenvolvidos, via meta florestal, cinco negócios e startups, totalizando mais de 7 mil hectares de plantio, no eixo de recuperação. No âmbito da proteção, o Fundo Vale se dedicou a avaliar a viabilidade ambiental, social e econômica da integração do REDD+ à estratégia que vinha executando a partir de parcerias com Unidades de Conservação (UCs). Até 2022 foram firmadas parcerias com seis UCs na Mata Atlântica, que juntas ajudam a proteger mais de 115 mil hectares de florestas.