Por Manfredo Rübens*
Vemos, quase que diariamente, manchetes sobre a crise climática mundial. O assunto afeta todo o planeta, é de extrema urgência e, com razão, precisa estar sempre em pauta. Nesse sentido, é indiscutível que os países devem buscar seu desenvolvimento, mas é essencial atrelar isso a uma jornada sustentável ou, em outras palavras, compatível com as metas internacionais de redução de emissões de gases do efeito estufa, utilizando os recursos de maneira mais eficiente.
Aqui na América do Sul, temos o privilégio de viver em uma região que é uma verdadeira potência verde – um “Green Powerhouse” –, com a possibilidade de se tornar um protagonista importante, mundialmente, numa agenda rumo à produção sustentável.
Detentora de mais de um quarto das florestas do planeta, temos recursos naturais em abundância para um desenvolvimento de soluções com baixa pegada de carbono. Contamos com uma condição ambiental privilegiada para a produção de energia majoritariamente limpa, bem como a oferta de biocombustíveis em escala, temos matérias-primas renováveis provenientes dos biomas da região, além de diversas iniciativas para a economia circular e a monetização de carbono. Todos esses elementos são essenciais para diminuição de emissões de gases do efeito estufa.
Cada país da América do Sul apresenta uma especificidade ambiental que precisa ser pensada e trabalhada estrategicamente para que toda essa potencialidade se torne realidade e sirva para colaborar com o planeta.
A América do Sul possui a Amazônia e tantos outros biomas também ricos em biodiversidade. Nesta região encontramos energia verde em abundância, condições favoráveis para o cultivo em larga escala da cana-de-açúcar para o etanol e o lítio para baterias. Esses são apenas exemplos da contribuição da região para o equilíbrio ambiental mundial.
Se governos, empresas e demais instituições tomarem para si a responsabilidade de fazer a transição para uma economia de baixo carbono, podemos converter esses diferenciais de sustentabilidade locais em oportunidades de negócios competitivos.
O relatório 2022 New Energy Outlook, desenvolvido pela BloombergNEF para a iniciativa NetZero Pathfinders, listou recomendações a quem cria políticas públicas e atores do setor privado para colocarem em prática ações sustentáveis. Entre elas, está a de apoiar o desenvolvimento de novas soluções para proteção do clima.
A indústria de transformação é fundamental para essa transição verde. Uma estratégia de sustentabilidade bem definida, alinhada com as potencialidades dos recursos naturais da região em que atua, fomenta o desenvolvimento de soluções sustentáveis que impactam positivamente não somente os negócios, mas também a sociedade, os fornecedores, os clientes, a comunidade em que está inserida – além do meio ambiente, é claro.
O Pacto Global das Nações Unidas é um grande apoio nessa jornada. Elaborado há mais de duas décadas com a missão de engajar o setor privado na Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o pacto é uma chamada para as empresas alinharem suas estratégias e operações, uma iniciativa fundamental para nortear as ações de sustentabilidade corporativa.
Se pegarmos como exemplo a indústria química, é fato que ela é altamente intensiva em energia e CO2, porém, as inovações permitem um futuro de baixo carbono. Prova disso é o comprometimento de diversas empresas do setor com o Acordo Climático de Paris para a redução de emissões de gases do efeito estufa.
Para tanto, focar na eletrificação dos processos de produção química e no uso de materiais renováveis e reciclados, o que requer política e ambiente de mercado favoráveis, é imprescindível.
Sob esse prisma, nossa região tem muito a contribuir. Temos uma aptidão natural para produzir energia a partir de fontes renováveis, como hídrica, solar, eólica e de biomassa. Para se ter uma ideia, a matriz energética da América do Sul é 69% renovável, enquanto a mundial é apenas 26%, de acordo com estudo do Our World in Data. Quando olhamos para o Brasil separadamente, esse número sobe para 77%.
Tomo como um dos meus objetivos dar valor à riqueza natural da América do Sul e, como uma “usina de força verde” – um “Green Powerhouse” –, buscar gerar impacto ambiental positivo de verdade, que beneficie não somente os agentes da cadeia e da sociedade em geral, mas que contribua para o desenvolvimento sustentável de outras regiões do planeta.
Ainda há muito a ser feito, mas tenho convicção de que o caminho para um futuro sustentável é a contribuição do setor privado, apoiado pelo setor público e pela sociedade, no melhor uso de recursos disponíveis.
*Manfredo Rübens é presidente da BASF para a América do Sul.