As riquezas minerais de Minas ajudaram a forjar um novo Brasil e deixaram marcas indeléveis na identidade do estado.

Ao aportarem no Brasil, em 1500, os portugueses não imaginavam a imensidão de riquezas que a terra recém-avistada escondia sob a exuberante paisagem que saltava aos olhos. Nas primeiras décadas após a chegada, pouco foi feito no que se refere à exploração do território. Porém, não tardou para que essa história ganhasse novos e valiosos rumos. A busca por metais e pedras preciosas foi estimulada pelo êxito dos espanhóis nas colônias americanas e pelos relatos de índios que aqui viviam sobre a ocorrência desses recursos minerais.

Ao procurar por prata e esmeraldas, os portugueses acabaram encontrando ouro e diamantes. E assim, nos 200 anos que seguiram à descoberta, começava a ser escrita a história da mineração no país, da qual Minas Gerais possui importante capítulo.

Em Minas, o ouro existia em abundância. A primeira pepita “mineira” foi achada em 1677, no Rio das Velhas, entre as cidades de Sabará e Lagoa Santa, nas chamadas Minas do Rio das Velhas. A descoberta é creditada a Manoel Borba Gato e Garcia Rodrigues Paes Leme, remanescentes da bandeira de Fernão Dias, de quem eram genro e filho, respectivamente.

No Século XVIII, ao ouro somou-se a descoberta de jazidas de diamantes na então Capitania de Minas Gerais, o que aqueceu ainda mais a atividade na colônia. À época, as principais lavras se localizavam no Tejuco (Diamantina) e nos arraiais de Milho Verde, São Gonçalo, Rio Manso, Rio Preto, Datas e São João da Chapada, dentre outros.

Alguns estudiosos delimitam a era do diamante no Brasil entre 1730 e 1870, quando a liderança do mercado mundial passou a ser da África do Sul. A corrida do ouro também foi importante para a descoberta de outros metais na região.

CORRIDA DO OURO

Na década de 1690 surgiram as minas de cidades como Ouro Preto e Mariana, também conhecidas como Minas de Cataguazes. “Durante o Século XVIII o Brasil era o maior produtor mundial de ouro e diamantes. O ciclo do ouro em Minas Gerais foi o primeiro grande gold rush do mundo, muito antes da Califórnia (1848) e Austrália, Alaska e África do Sul (1876)”, explica o doutor em geologia e professor associado do Departamento de Geologia – Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Friedrich E. Renger.

Por se tratar de ouro de aluvião, depósito sedimentar formado nos leitos dos rios, o conhecimento primário e a pouca prática dos portugueses na lavra eram minimizados. A técnica viria a ser aprimorada com o passar do tempo, evolução que contou em grande parte com a contribuição de escravos africanos detentores de certo saber extrativista.

Especialista em História da Mineração e Cartografia Histórica, Renger conta que a tradição minerária do estado foi fator importante para a escolha do local da primeira escola de minas do Brasil, instalada em Ouro Preto. Os engenheiros formados nesta escola dominaram o campo da mineração do final do Século XIX ao início do Século XX.

MINÉRIO DE FERRO

Os primeiros a trabalharem a redução do minério de ferro foram Afonso Sardinha pai e filho, no Morro de Araçoiaba, em São João de Ipanema, atual Sorocaba (SP). No Século XVIII, auge do ciclo do ouro em Minas, surgiram vários pequenos fornos de redução, voltadas para a fabricação de apetrechos de mineração e agricultura.

Porém, a exploração de recursos minerais, até então, não era estimulada. Pelo contrário. Fortemente reprimida, a construção de novas fundições chegou a ser proibida pela Coroa. Em 1785, um decreto real proibiu a produção de manufaturas no país, o que inibiu sobremaneira a produção de ferro. Isto porque, atendendo aos anseios mercantilistas, a colônia servia a um único propósito: a exploração maciça de ouro e produtos agrícolas.

HERANÇA

O modo de falar, a arquitetura doméstica e eclesiástica, a organização urbana, a estrutura das instituições de ensino, a culinária e até o próprio nome. Em Minas Gerais essas manifestações trazem consigo a particularidade de serem heranças do momento histórico moldado pela mineração.

A atividade atraiu milhares de pessoas vindas de diversas partes do país e de Portugal, além dos escravos trazidos da África. A chegada acelerada de imigrantes levou a Coroa a restringir, em 1720, a entrada de portugueses no Brasil. A sociedade mineira foi profundamente influenciada por um mosaico de grupos e raças, de novos imigrantes brancos e de segunda e terceira gerações de americanos natos, de novos escravos e de escravos nascidos em cativeiro.

MORRO VELHO

Por volta de 1725, a exploração de ouro começou a ser feita na Mina de Morro Velho, situada no arraial de Congonhas do Sabará, atual Nova Lima, valendo-se de processos bastante primitivos. Desativada em 2003, Morro Velho produziu mais de 570 toneladas de ouro, extraídas por cerca de 100 mil trabalhadores que escavaram galerias que chegaram a 2,7 mil metros de profundidade.

BATISMO DE MINAS

A região do atual estado de Minas Gerais fazia parte da chamada ‘Repartição do Sul do Estado do Brazil’, com capital no Rio de Janeiro. Em 1709, depois da Guerra dos Emboabas, foi desmembrada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. Em 1720, passada a revolta de Vila Rica, foi criada a capitania das Minas de Ouro que, somente a partir de 1730, passou a ser chamada de Minas Gerais.   Fonte: Friedrich E. Renger

O Barão da mineração

Do resplendor do ouro aos matizes do minério de ferro. A fuga da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, deu novo fôlego à mineração brasileira. Ao conferir de perto a má fase que a atividade enfrentava naquele momento, D. João VI autorizou as primeiras fábricas de ferro, uma em São João de Ipanema (atual Sorocaba) e outra em Morro do Pilar. Outra medida foi trazer para o Novo Mundo, em 1811, o Barão Wilhelm Ludwig von Eschwege, nome que se tornaria um expoente para a mineração brasileira.

Ao assumir a importante missão de recuperar a atividade e avaliar a possibilidade de explorar novos recursos, Eschwege foi responsável por vários feitos. A defesa de uma reforma da legislação mineral; o trabalho de convencimento dos mineiros para que usassem equipamentos mais avançados, como pilões movidos por roda d’água na trituração do minério de formação; e o censo das lavras de ouro da Capitania de Minas Gerais, que em 1814 registrou 555 serviços, entre aluvião e formação, sendo 130 deles na bacia do Rio das Velhas, estão entre os esforços empreendidos pelo Barão para reanimar a mineração do ouro.

A contribuição de Eschwege não parou por aí. Mesmo enfrentando uma série de obstáculos, muitos deles burocráticos, ele iniciou um período de experiências siderúrgicas na Usina Patriótica, localizada em Congonhas do Campo. “Optando por uma fábrica pequena, para o abastecimento local, Eschwege introduziu alguns melhoramentos técnicos. A fábrica produziu o primeiro ferro em 12 de dezembro de 1812, tornado-se a primeira fábrica de ferro de escala industrial do Brasil”, ressalta Renger.

Outra importante contribuição do Barão de Eschwege foi a proposta de um novo sistema administrativo com a introdução das sociedades de mineração em vez do titular individual, aprovada com a publicação do alvará de 1817. Ele criou a primeira sociedade de mineração: a Sociedade Mineralógica de Passagem, empreendimento que sobreviveu de 1819 a 1821, data em que retornou a Portugal.