Presidente do Ibram destaca que o único caminho para o futuro sustentável da mineração é inovar; tema é o eixo central do World Mining Congress, no Rio de Janeiro.

No momento em que sedia um dos mais importantes encontros mundiais do setor mineral, o Brasil vive momentos agitados. Reviravoltas políticas e depressão econômica trazem contornos indesejáveis à imagem do país. No entanto, para o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), José Fernando Coura, a mineração nacional deve olhar para frente tendo a inovação como foco. Este é o principal eixo temático da 24ª edição do World Mining Congress (WMC), que pela primeira vez é realizado na América do Sul. O Rio de Janeiro sedia o evento.

Coura destaca o significado do congresso para a mineração brasileira, uma espécie de selo de reconhecimento do papel do setor no panorama internacional. “Eu entendo que é um momento delicado, difícil, mas é um momento de expectativa, de confiança. A mineração brasileira tem suas próprias características. Grandes jazidas de excepcional qualidade são sempre atrativas para investimentos”, afirma o líder da maior entidade representativa do segmento no país.

Ressaltando o viés técnico do WMC, José Fernando Coura evita tecer comentários sobre as implicações para a mineração geradas pelo momento político do Brasil. No entanto, ele espera que o país “possa encontrar três pilares para atrair investimentos: segurança jurídica, respeito aos contratos e atratividade para investimento”.

Coura destaca o interesse acima das expectativas pelo WMC e afirma que o número de delegações estrangeiras e de trabalhos inscritos surpreendeu, bem como o de participantes. Para o presidente do Ibram, eventos do tipo têm a grande vantagem de injetar ânimo no empresariado, principalmente a partir do intercâmbio de inovações que contribuem para a produtividade da mineração.

 

Mineração & Sustentabilidade   A realização do WMC 2016 no Brasil guarda qual significado para mineração nacional?

José Fernando Coura  Primeiro, é um forte reconhecimento da importância do papel do Brasil no mundo da mineração. Disputamos esse congresso com outros países, fomos vencedores e escolhidos pelo comitê internacional. Isso significa que a realização desse congresso marca, de uma vez por todas, a importância da mineração brasileira junto aos outros países.

M&S  E esse momento que a mineração brasileira está vivendo. Isso favorece ou fortalece?

JFC  Eu entendo que é um momento delicado, difícil, mas é um momento de expectativa, de confiança. A mineração brasileira tem suas próprias características. Grandes jazidas com excepcional qualidade são sempre atrativas para investimento. Esperamos que o Brasil possa encontrar três pilares para atrair investimento: segurança jurídica, respeito aos contratos e atratividade para investimento.

M&S  Como se deu o processo de escolha do Brasil? Como foram as negociações?

JFC  Foi no IOC, que é o comitê internacional, sediado na Polônia. Foram escolhidos alguns países e no final a organização do evento ficou entre Brasil e Cazaquistão. O Brasil ganhou e a partir de 2012 começamos a trabalhar na realização desse evento.

M&S  Qual o eixo temático mais importante na edição 2016 do WMC? Por quê?

JFC  Mineração no mundo da inovação. A inovação é fundamental em todos os setores e não poderia ser diferente na mineração. Nós estamos com um número recorde de trabalhos apresentados. Esse congresso tem um viés técnico, ele é muito específico e trata da inovação da mineração, a sua função social, a sua inserção no desenvolvimento de territórios, na economia, geração de emprego e renda e na interiorização do desenvolvimento. Quem não inovar vai ficar de fora. Quem não tiver sustentabilidade ambiental, função social e competitividade vai estar fora do mercado.

M&S  Quais as expectativas que o senhor tem com relação ao evento?

JFC  Expectativa é a melhor possível. Nós estávamos um pouco preocupados, mas agora nós estamos tranquilos. O número de delegações estrangeiras está surpreendendo, o número de trabalhos inscritos surpreendeu e também o número de participantes. Portanto, tenho certeza que o congresso, com esse viés técnico, será um sucesso e marcará de vez a competência e a marca do Brasil perante o mundo. Tem ministros, delegações de diversos países como Índia, China, Austrália, Canadá, Cazaquistão, Irã, Estados Unidos, Chile, Peru, da Europa, de todo o mundo estarão representados.

M&S  Pode-se dizer que eventos do porte do WMC têm o potencial de reavivar os ânimos do empresariado?

JFC  Esse é o principal objetivo. Porque, como se trata da discussão técnica, temos o debate em torno de estudos e pesquisas. O otimismo e a injeção de ânimos se dão através de inovação. A inovação renova o capitalismo, renova as empresas, faz com que as empresas estejam cada vez mais competitivas, mais lucrativas e possam continuar reinvestindo.

M&S  A participação das empresas no WMC foi satisfatória?

JFC  Eu digo que nós queríamos mais, mas é satisfatória porque, mesmo nesse momento de crise, com as dificuldades do presente, as empresas estão chegando, estão participando e isso é muito importante. É uma oportunidade inclusive para seus quadros técnicos. O congresso é extremamente técnico, é uma oportunidade para esses profissionais apresentarem trabalhos e trocarem ideias com autoridades, cientistas e representantes do setor de todo o mundo.

M&S  O Brasil passou por uma guinada política. Como avaliar os impactos dessa mudança no contexto da mineração brasileira?

JFC  Creio que o mais importante é discutirmos a questão do WMC, um congresso técnico mundial, cujo comitê organizador é da IOC, órgão ligado à ONU, com sede na Polônia. Esse congresso não tem viés político, ele só tem viés técnico, 100% técnico. O próximo será no Cazaquistão, nós, ao final do congresso, passaremos a lâmpada para as mãos do ministro do Cazaquistão e dos organizadores que vão organizar a próxima edição. Esse congresso trata de temas que são de interesse de todo o mercado internacional. Assim, prefiro não comentar política nesse momento.

M&S  Qual a avaliação do Ibram em relação ao consumo vinculado à cadeia mineral?

JFC  Creio que se projetarmos o crescimento da população mundial, com sete bilhões de pessoas atualmente e subindo, evidentemente que o cidadão precisa de casa, precisa de alimento, de vestuário, de carro, de mobilidade, de estrada, de aeroporto. Então, há a perspectiva de aumento da demanda por produtos minerais, energia e alimentos. Nós temos ainda que matar a fome de milhões de pessoas no mundo. Só se mata a fome com alimento. Para produzir alimento, não há outro jeito se não for com fertilizantes: nitrogênio, potássio e fósforo. Este é um exemplo de como a mineração é necessária para se enfrentar os desafios que se colocam.

M&S  Como o senhor analisa o movimento de venda de ativos de grandes players da mineração brasileira?

JFC  Essa é uma questão que a gente não opina, não cabe à instituição de classe entrar em assuntos nem de natureza comercial, nem de natureza interna das suas empresas. À instituição cabe a representação, a defesa dos interesses da indústria mineral.

M&S  O senhor avalia essas negociações como normais?

JFC  Normais. Eu acho até que reduziu bastante. Caso voltemos a ter negociações, isso significa uma retomada de confiança. Especificamente sobre cada negociação, procuramos não dar nenhuma opinião porque são assuntos de natureza comercial e próprios de cada empresa. Mas vejo que, sempre que há retomada de movimentações, isso significa mudança de patamar de interesse.

M&S  E em relação aos investimentos, qual o destaque?

JFC  O maior destaque nesse momento é o projeto S11D, da Vale, na região de Carajás. É um projeto extremamente revolucionário, que tem a marca da inovação e que vai mudar o patamar da indústria do minério de ferro mundial.

M&S  Com o S11D, é possível que o Pará supere Minas Gerais em produção?

JFC  Não, pode chegar próximo no minério de ferro, mas Minas é muito diversificado, e eu gostaria também que Goiás crescesse, como está acontecendo, que a Bahia crescesse, como está fazendo. O Brasil tem potencial, a mineração interioriza o desenvolvimento e o que nós queremos é o desenvolvimento de todos os estados. Voltando à pergunta, Minas é muito diversificada, produz minério de ferro, ouro, fosfato, zinco, rochas ornamentais, nióbio,
manganês, lítio, dentre outros minerais. Minas tem uma diversificação mineral fantástica.

M&S  Como o novo programa de concessões do governo influencia o setor?

JFC  Pode ajudar sim. Nós sempre repetimos: a mineração está pronta para receber o crescimento do país, e o crescimento do país se dá através de investimento em infraestrutura. Precisamos muito de rodovias, ferrovias, hospitais, aeroportos, habitação e saneamento básico. Todos esses investimentos demandam bens minerais: brita, areia, cimento, cal, ferro e todos os outros minerais. Portanto, a retomada da infraestrutura brasileira é uma injeção direta na veia da indústria mineral brasileira, que está pronta para responder e atender essa demanda.

M&S  Após o ocorrido com a Samarco, quais as preocupações do Ibram com relação à imagem da mineração brasileira?

JFC  O acidente foi lamentável e triste, queria mais uma vez reiterar minhas condolências às vítimas, minha solidariedade aos atingidos. Por outro lado, temos que tirar proveito de um acidente como esse. Um acidente tem que deixar ensinamentos, para que nunca mais se repita. E, principalmente na questão da imagem, tivemos a oportunidade de lançar um produto da Fundação Getúlio Vargas [o estudo Panorama da Mineração em Minas Gerais, lançado em agosto de 2016] para mostrar com números e informações geográficas, demográficas, econômicas e sociais a importância da mineração para um Estado como Minas Gerais.

M&S  Qual a principal mensagem que o senhor pretende deixar para os participantes do WMC 2016?

JFC  A principal mensagem é que é possível fazer uma mineração com responsabilidade social, com sustentabilidade, gerando emprego e renda e melhorando a qualidade de vida de cidades que estão distantes dos grandes centros industriais.