Depois de um 2016 mais positivo, especialistas acreditam que trajetória do setor de mineração continuará crescendo em 2017.

O ano de 2017 deve ser marcado pela retomada da mineração mundial, bem como da confiança em novos investimentos. Após a crise enfrentada nos últimos anos devido à queda na demanda por minério de ferro, em 2016 o setor voltou a caminhar em direção a
uma melhora, tendo sido superior aos anos anteriores, um bom indicador de que em 2017 a tendência é que a subida continue.

De acordo com o sócio-líder para mineração e metais da EY, Afonso Sartorio, no ano passado, as transações reduziram, alcançando 44 bilhões de dólares, valor que representa os níveis de atividade equivalentes aos de 2004, um decréscimo de quase 10% em todo o mundo em relação a 2015. Na América Latina, a queda chegou a um total de 2,9 bilhões de dólares. Por outro lado, o levantamento de recursos foi mais direcionado à aquisição de projetos já existentes do que ao desenvolvimento de projetos exploratórios. “Isso indica que em 2016 o setor trabalhou muito, privilegiou os ativos que já estavam construídos. Isso tem acontecido desde a grande redução dos preços de commodities, há aproximadamente três anos”, salienta Sartorio.

O preço do minério de ferro em 2016 também demonstrou um bom indicativo. No fim do ano, a tonelada fechou por pouco mais de 80 dólares. “Foi maior do que qualquer expectativa. Acabou sendo um ano bom, especialmente se comparado a 2014 ou a 2015, que foram muito mais complicados. Eu diria que esse lado positivo de 2016 foi por dois motivos principais. O primeiro é o nível de produção de aço na China, e o segundo, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, vista como algo positivo do ponto de vista econômico”, explica o sócio da KPMG, Pieter van Dijk.

OFERTA E DEMANDA

O preço do minério de ferro, no entanto, deve voltar a cair, pois, de acordo com Pieter, o valor atual não é sustentável. Por isso, a expectativa dos analistas no mundo é que a tonelada do produto gire em torno de 55 dólares neste ano. Isso deve ocorrer porque a demanda provavelmente será menos intensa em 2017, sobretudo da China, principal consumidora de minério do mundo. “Existe uma expectativa de que a demanda vai ser um pouco mais fraca neste ano, até porque o nível do estoque de minério de ferro na China é alto”, destaca Dijk.

Já a oferta do produto deve aumentar principalmente porque quatro grandes mineradoras – Vale, BHP Billinton, Rio Tinto e Fort Escue – estão prevendo aumento na produção de minério.

A oferta vai crescer, a demanda, nem tanto, o que acarretará sobra de oferta.

Mesmo assim, existe a previsão dos especialistas de crescimento, de acordo com o sócio da KPMG. “A China tem milhares de projetos de infraestrutura, o que é muito importante para aço e minério de ferro, e para a indústria automotiva. Todas essas indústrias estão prevendo um leve crescimento. Dificilmente, a demanda vai voltar para os patamares de 2011, 2010, mas a economia vai continuar crescendo”, estima ele.

INVESTINDO O POSSÍVEL

O consultor da EY concorda que as empresas ainda tentam entender o que pode acontecer nos próximos meses, mas, globalmente, espera-se um volume maior de transações e captações, as quais irão permitir que o segmento da mineração volte a crescer em vez de encolher. Segundo ele, há projetos surgindo, até mesmo pela necessidade natural. Nas minas em atividade, aos poucos o mineral vai perdendo a qualidade, sendo necessários novos investimentos para se manter a produção.

Exemplos de que 2017 é um ano em que novos projetos começam a ser executados não faltam.

Um deles é o S11D, da Vale, em Canaã dos Carajás, no Pará, que já embarcou sua primeira carga comercial de minério no mês de janeiro. O S11D tem capacidade de produção estimada em 90 milhões de toneladas por ano, a ser atingida no ramp-up, em 2020. Foram investidos no empreendimento 14,3 bilhões de dólares, incluindo mina, usina, logística ferroviária e portuária.

A expectativa é que isso impulsione o setor minerário do país, principalmente no Pará e no Maranhão, onde o projeto está instalado, e também no mundo. “Aceitamos o desafio de implantar uma das maiores operações de minério de ferro do mundo, mesmo diante de um cenário externo de incertezas. Com a confiança em nossa gestão estratégica e em nosso capital humano, seguimos adiante na missão de tirar da planta um dos projetos mais ousados de nossa empresa e colocá-lo em operação”, afirmou o diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira, durante o evento de inauguração do S11D.

Porém, projetos grandes não têm sido um padrão. O cenário atual comporta projetos menores, conforme prevê o sócio-líder para mineração e metais da EY. “A gente ainda vai ver muitos movimentos de consolidação em players, que precisam ter escala para fortalecer a capacidade operacional. No ano passado, as transações foram muito puxadas pelos vendedores, de forma contrária ao mercado, que é puxado pelos compradores. Os vendedores ainda vão estar no protagonismo, mas esperamos um movimento de busca por novos projetos, como as grandes empresas do setor, que reduziram a taxa de crescimento de produção para não arcarem com os custos da produção em um momento em que os preços não estão muito competitivos”, afirma.

MERCADO DE FOSFATO

Outro projeto da Vale que entrou em operação no fim de 2016 e promete impulsionar o mercado interno de fosfato foi o da abertura de extração de rocha fosfática no município de Patrocínio, em Minas Gerais, sob um investimento de R$ 1 bilhão. Só para o mês de fevereiro, a expectativa é que sejamextraídas entre 150 e 200 mil toneladas do produto. O empreendimento beneficiou a cidade vizinha de Araxá, cuja mina está se exaurindo, mas com a usina de beneficiamento em pleno funcionamento. Assim, o minério extraído em Patrocínio é transportado pela ferrovia para Araxá, onde é beneficiado. “O projeto está na curva de maturidade que prevíamos. Ainda não há todas as estruturas secundárias prontas porque fizemos um planejamento para que o projeto pudesse ser implantado de maneira rápida e que fosse complementado aos poucos após a operação. Temos algumas coisas para concluir, mas que não impedem o funcionamento”, destaca o gerente-executivo da Vale Fertilizantes, Camilo Silva.

A Galvani também vai inaugurar ainda em 2017 o Complexo Mineroindustrial Serra do Salitre, no município de Serra do Salitre, vizinho de Patrocínio. O projeto está em fase final de obras e terá capacidade produtiva anual de 1,2 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados. A previsão é que a operação de mineração se inicie no segundo semestre deste ano. Já a planta química e a produção de fertilizantes devem começar a operar no segundo semestre do próximo ano. Enquanto isso, o minério extraído lá será beneficiado em Paulínia, em São Paulo.

Para a diretora de mineração da Galvani, Andréia Nunes, 2017 será um ano positivo, haja vista os muitos projetos da mineradora. “Neste ano, a empresa também manterá os investimentos tecnológicos da Unidade de Mineração de Angico dos Dias (UMA), sempre em busca de uma mineração sustentável – que alie capacidade elevada de produção, segurança e respeito ao meio ambiente –, a fim de abastecer as unidades de produção de Paulínia (SP) e Luís Eduardo Magalhães (BA). Também exploraremos de maneira sustentável a mina existente em Lagamar (MG), que caminha para sua fase final de extração e será, aos poucos, substituída pelo Complexo de Serra do Salitre. Por fim, continuaremos o processo de obtenção das licenças para darmos andamento às obras do Completo Mineroindustrial de Santa Quitéria (CE)”, afirma.

Com o projeto S11D, em Carajás, o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira terá sua capacidade de embarque aumentada para 230 milhões de ton/ano em 2018 – Foto: Agência Vale

MORRO DO IPÊ

Neste ano, os municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé, na região metropolitana de Belo Horizonte, também em Minas Gerais, receberam a boa notícia da volta das atividades minerárias em suas terras. É que a antiga MMX Sudeste, que pertencia a Eike Batista, foi vendida para os grupos Trafigura e Mubadala, resultando na criação da Mineração Morro do Ipê. A nova companhia detém as minas Ipê e Tico-Tico, bem como suas unidades de processamento na região de Serra Azul. A empresa não se manifestou sobre quando oficialmente a operação retorna, mas a estimativa do mercado é que isso ocorra ainda em 2017.

ESPERANÇA AMERICANA

Uma das propostas de governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, são investimentos na ordem de1 trilhão de dólares em infraestrutura pelo país, em obras como estradas, pontes e aeroportos. Com base nisso, a expectativa é que as demandas por minerais como agregados da construção civil e minério de ferro aumentem.

De acordo com reportagem divulgada pelo “The Wall Street Journal”, um dos maiores veículos de comunicação dos EUA, as ações das empresas de mineração do país dispararam após a vitória do republicano. “Se alguém vai impulsionar os gastos em infraestrutura, isso só vai ser positivo para o setor de mineração”, comentou o chefe da equipe global de mineração da Deloitte, Phil Hopwood, durante uma conferência da indústria em Cape Town, na África do Sul, segundo informações publicadas pela “Dow Jones Newswires”. Mas o sócio da KPMG, Pieter van Dijk, alerta: “Esse projeto pode ter impactos na demanda por aço e ferro, mas a expectativa é que não vai ser muito grande”.

ANO DE DESAFIOS PARA O AÇO

O setor siderúrgico sentiu em 2016 o gosto amargo da crise interna. Os números demonstram quedas acentuadas em vários ramos. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Aço Brasil (IAB), a produção acumulada de aço bruto reduziu 9,2% na comparação com 2015, e a de laminados, 7,7%, na mesma base de comparação.

Já o consumo de produtos siderúrgicos foi 14,4% inferior ao registrado em 2015, e as vendas internas fecharam 2016 em 16,5 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 9,1% frente ao ano anterior. As importações somaram 1,9 milhão de toneladas, correspondendo a 1,7 bilhão de dólares. Esse resultado significa uma redução de, respectivamente, 41,4% e 45,9%, comparando-se com 2015. As exportações em 2016 mostraram baixas de 2,1% em volume e de 15% em valor, representando 13,4 milhões de toneladas e 5,6 bilhões de dólares no total do ano.

Ainda devido à crise, 3,2 bilhões de dólares em investimentos no setor foram adiados, e 83 unidades tiveram de ser paralisadas ou desativadas. Em nota, o instituto explica que, por conta do fato de o mercado interno estar enfraquecido, não é esperada uma recuperação vigorosa do setor ainda em 2017. O órgão afirma que, para que isso ocorra, são necessárias isonomia competitiva, proporcionada pela compensação dos tributos não recuperáveis das exportações, e redução dos custos de financiamento, que elevam o custo Brasil. A solução parcial no curto prazo seria a elevação da alíquota do Reintegra (devolução do resíduo tributário na cadeia para bens exportados) para 5%.

EXPECTATIVAS PARA 2017

# Tendência ascendente no volume de negócios durante o ano, mas com uma continuada ausência dos negócios de transformação multibilionários que caracterizaram as estratégias de crescimento durante o superciclo.

# Contínua consolidação esperada dos preços das commodities em 2017, que impactará positivamente as perspectivas setoriais e fortalecerá a confiança dos investidores. Como resultado, as opções de acesso ao capital melhorarão.

# Possibilidade de aumento constante nos volumes de transação enquanto as mineradoras retomam o financiamento de projetos de investimentos de capital em longo prazo.

# Consolidação em grande escala entre os produtores domésticos chineses. O realinhamento de portfólio e as mudanças estruturais em certas indústrias, como o aço, o carvão e o alumínio, serão os motores das atividades do negócio.

# A falta de gastos com exploração como resultado do acesso limitado ao capital contribuirá para um futuro déficit de oferta e poderá desencadear um retorno ao financiamento até o fim de 2017.

# Os sinais do mercado incentivarão aqueles que conseguiram fortalecer seus balanços para começarem a considerar aquisições estratégicas. Os intermediários irão consolidar suas posições por meio de transações com base em todas as ações, com vistas a se tornarem grandes players em suas respectivas commodities no pico do próximo ciclo.   Fonte: EY