Empresas e pesquisas já buscam novas formas de economizar o recurso hídrico no setor.

Nesta quinta-feira (22) é comemorado o Dia Mundial da Água e, em 2018, o Brasil sedia o maior evento global sobre esse recurso natural. Realizado a cada três anos, o 8º Fórum Mundial da Água começou no dia 18 de março e vai até sexta-feira (23), em Brasília, sendo a primeira edição realizada no hemisfério Sul.

Abertura do pavilhão Expo do 8º Fórum Mundial da Água.
Foto: Sergio Dutti/8º FMA.

O evento é organizado pelo Conselho Mundial da Água (WWC), organização internacional que reúne interessados no assunto, para promover a conscientização e debates sobre a conservação, desenvolvimento, planejamento e gestão de uso eficiente da água.

A organização internacional foi fundada em 1996 e reúne atualmente cerca de 400 instituições relacionadas ao recurso hídrico em aproximadamente 70 países.

Nove tópicos nortearão os debates do evento em 2018: Clima, Pessoas, Desenvolvimento, Urbano, Ecossistemas, Financiamento, Compartilhamento, Capacitação e Governança.

Uso da água na mineração

A mineração é um dos setores que têm se esforçado para promover esse uso consciente do recurso. Segundo Relatório de Conjuntura de Recursos Hídricos 2017, elaborado pela Agência Nacional das Águas (ANA), a mineração é responsável pela retirada de 1,6% de água no país, o que corresponde a 1,024 bilhão de metros cúbicos ao ano. Já no que se refere ao consumo, o setor responde por 0,8%, ou seja, 0,27 bilhão de metros cúbicos. Os dados são de 2016.

De acordo com o estudo “Mineração e Economia Verde”, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), é possível obter uma economia de mais de 80% no uso da água no processo produtivo da mineração

O diretor de Assuntos Ambientais do Ibram, Rinaldo Mancin, ressalta que o setor é bem dependente do recurso hídrico e é necessário mais investimento em novas tecnologias para aprimorar o reúso.

“A água é usada para muita coisa na mineração, como o processo de lavra e transporte através de mineroduto. Apesar das empresas estarem mais conscientes sobre o uso da água e existirem técnicas que permitem o aproveitamento de 80% ela ainda é a melhor opção para o setor. Precisamos de mais investimento em novas tecnologias para economizar mais”, explica Mancin.

Nova tecnologia para a economia da água na mineração

Um dos exemplos de tecnologia aplicada no setor é o projeto desenvolvido pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), pertencente ao departamento de Engenharia de Minas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que permite o armazenamento de rejeitos em forma de pelotas, permitindo a economia de água.

Pilha de pelotas de rejeito. Foto: Rejeito Zero/ Divulgação.

De acordo com o professor do departamento de Engenharia de Minas da UFMG, Evandro da Gama, essa nova forma apresenta um custo mínimo pois não precisa de investimento de maquinário e torna o armazenamento mais prático. “É mais fácil você construir uma pilha de pelotas do que guardar a lama e não vai precisar gastar água para fazê-la. Além disso, elas são resistentes a chuva”.

Na opinião do especialista, a utilização de barragens é uma maneira perigosa de armazenamento, porém existe uma resistência da geotecnia de barragens a respeito do uso da nova tecnologia.

Ele destaca que as pelotas apresentam outro benefício. “Outra vantagem das pelotas é que elas podem ser reaproveitadas, substituindo a brita na construção de estradas”, acrescenta.

Empresas com uso inteligente da água

Atualmente muitas empresas do setor estão atentas ao uso racional da água. Um dos casos é a Mineração Rio do Norte (MRN). A mineradora utiliza o recurso hídrico no processo de separação da bauxita minerada de substâncias como sílica e argila, por meio de sistemas pressurizados que permitiram, em 2017, uma economia de água de 84%.

De acordo com o gerente Industrial, Jeã de Lima, são usados anualmente somente 15% de água nova devido ao processo de economia. “A pressão aplicada é responsável pela eficácia da lavagem e consequentemente pela economia de água. O recurso hídrico empregado neste processo é amplamente reutilizado. Além disso, não é realizado seu descarte no meio ambiente. A MRN reaproveita 85% da água enviada para barragem de rejeito no seu processo produtivo de lavagem do minério. A diferença, 15%, é água nova para compensar as perdas naturais pelo processo de evaporação e infiltração nos rejeitos”, explica.

Sistemas pressurizados para a limpeza de bauxita. Foto: MRN.

Outro modo de preservação de água na MRN é feito por meio do projeto de Educação Ambiental que, de acordo com o gerente do Departamento de Controle Ambiental, Marcelo Thomy, tem o objetivo de sensibilizar a população para o uso consciente do recurso. “Em 2017 a nossa iniciativa registrou um público de 872 participantes. Agimos por meio de palestras, oficinas e gincanas”, salienta.

Vale

Outro destaque é o empreendimento S11D da Vale no Pará, que não utiliza água nos processos produtivos de minério, pois é aproveitada a umidade natural do produto. Desse modo, a empresa consegue economizar água e utilizá-la para outros fins.

Complexo S11D da Vale no Pará. Foto: Ricardo Teles.

Petrobras

Sendo a primeira empresa brasileira a se associar ao WWC em 2005, a Petrobras investiu em iniciativas de reúso de água que levaram a economia de 25,4 milhões de metros cúbicos em 2017, o que corresponde a 12,5% da demanda total de água doce das instalações.

“Água é essencial à vida e vital para as nossas operações. Investimos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico visando à racionalização constante do seu uso em todas as nossas instalações. Além disso, atuamos em conservação e recuperação de mananciais por meio de projetos do Programa Petrobras Socioambiental”, destaca o diretor de Assuntos Corporativos da Petrobras, Eberaldo Neto.

*Sob Supervisão de Sara Lira