Em encontro em Belo Horizonte, diretoria do Instituto Aço Brasil também comentou sobre a necessidade de investimentos que contribuam para o desenvolvimento do setor.
A indústria do aço brasileira ainda tem expectativas de reverter a decisão do governo dos Estados Unidos de impor cotas às exportações de aço do Brasil ao país. Na semana passada, Washington confirmou que o Brasil está entre os países em negociação, juntamente com Argentina e Austrália.
“Temos que aguardar o processe e ver se (Donald) Trump vai mesmo assinar o decreto”, afirmou o presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil e da siderúrgica Vallourec no Brasil, Alexandre Lyra, em evento em Belo Horizonte na terça-feira (8).
A medida foi uma proposta do governo norte-americano após a decisão de sobretaxar em 25% a importação de aço, o que tem causado um forte impacto comercial no mundo. De acordo com o presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, as exportações do Brasil aos EUA não representam um risco à indústria siderúrgica de lá, pois 80% é de produtos semiacabados.
Caso a situação não seja revertida, ele acredita que vai faltar aço nos EUA, tornando necessário que os americanos revejam a política com relação ao Brasil. Além disso, em simulação feita pelo Aço Brasil, estima-se que haveria uma queda de 7% nas exportações de semiacabados e de 20% a 60% nas de acabados. “Se nada for feito nesse processo final de negociação teremos uma penalização forte”, disse Lopes.
Alexandre Lyra acrescentou que, com a decisão dos norte-americanos, a tendência é de fechamento nos mercados globais para onde o Brasil exporta, como países europeus. Já as nações asiáticas importam da China, por ser mais próximo. “Restaria a nós exportar para países da África ou para a Arábia Saudita, destinos que representam menos de 2% das vendas brasileiras de aço nos últimos anos”, afirmou.
“Sabemos que há um grande excedente de capacidade instalada no mundo e com o fechamento do mercado norte-americano, esses volumes estarão em busca de novos mercados”, pontuou Marco Polo.
Contra o protecionismo
Segundo o vice-presidente do Instituto Aço Brasil e presidente da Usiminas, Sérgio Leite, a atitude dos países em reação à medida dos EUA tem sido proteger os mercados, medida que a entidade representativa do setor não aprova. “Defendemos a isonomia, uma disputa de mercado nas mesas condições”, disse.
Leite ainda acrescentou que é necessário o fortalecimento da indústria do aço no país, uma vez que a indústria de transformação está perdendo espaço no Brasil, caindo de 25% da representatividade no Produto Interno Bruto (PIB) para patamares inferiores a 10%, nos últimos 15 anos.
Alexandre Lyra acrescenta que falta incentivo por parte dos Governos para solucionar alguns problemas como a carga tributária: cerca de 40% da produção do setor é de impostos, o que impacta na competitividade.
A falta de grandes investimentos em infraestrutura e no setor de petróleo e gás no país, que demandam uso forte de aço, também impacta na dificuldade de alavancagem do setor. Conforme dados do Instituto Aço Brasil, a estimativa é que o volume de vendas volte aos patamares de 2013, quando os índices foram altos, somente em 2027.
Gigante chinês
A China é o país com a maior quantidade de excedente de capacidade, em um total de 405 milhões toneladas (a do mundo se aproxima de 735 milhões de toneladas). Para dar vasão à produção, o país asiático tem projetos de investimento em infraestrutura em vários países, incluindo o Brasil.
O problema é que os chineses levam não apenas capital financeiro, mas também exportam a capacidade ociosa de aço, além de equipamentos, correndo o risco de provocarem uma desindustrialização nos países onde estão investindo.
“Nosso papel é ir ao governo chinês explicar que temos uma indústria desenvolvida. O capital é bem-vindo, mas que eles devem comprar localmente porque nós temos tecnologia e competitividade”, informou Alexandre Lyra.