Buscando a equidade entre os gêneros, empresas se conscientizam na valorização também do trabalho da mulher em um ambiente até pouco tempo dominado pelos homens.
Tradicionalmente masculino, o setor mineral está cada vez mais sendo ocupado pelas mulheres em todos os níveis de operação. Foi essa a constatação durante o evento Women in Mining, realizado pelo Consulado Britânico em São Paulo na quinta-feira (8), em Belo Horizonte (MG). O encontro reuniu mulheres que ocupam cargos de destaque no setor no Brasil em um talk-show.
Uma delas foi a secretária de Geologia, Mineração e Transformação do Ministério de Minas e Energia (MME), Maria José Salum, única mulher a estar à frente de uma secretaria da pasta. Para ela, a presença feminina vem se fortalecendo na mineração a cada dia, principalmente nas áreas de gerência, mas também nas áreas operacionais. Para que esse número alavanque ainda mais, é necessário que as empresas busquem dar publicidade a isso e abram mais espaço para as mulheres.
Uma das iniciativas do Ministério, segundo a secretária, é o Comitê Permanente para as Questões de Gênero do MME e Empresas Vinculadas, que tem o objetivo de discutir essa equidade nos setores de mineração, energia e petróleo e gás.
“Somos a secretaria vitrine do MME por ter tantas mulheres na pasta e esse comitê é uma oportunidade para levantar o debate da participação da mulher nesses mercados”, afirmou Salum, formada em Engenharia de Minas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ex-professora do curso.
Já a gerente executiva do complexo Vargem Grande, da Vale, em Minas Gerais, Karina Rapucci, afirmou que a mulher tem as mesmas capacidades que o homem de liderança no setor. Aos 39 anos ela é a primeira mulher a ocupar um cargo de gerência operacional na empresa. Sob seus cuidados, estão 3.300 funcionários. Tamanha responsabilidade nunca a assustou, pelo contrário, foi combustível para continuar crescendo na profissão. Por isso, ela incentiva outras mulheres que desejam alçar voos altos no setor a se manterem firmes em seus propósitos profissionais.
“É necessário ter objetivos reais de qual carreira você deseja seguir dentro do setor e traçar metas. Para isso, você pode também se apoiar em bons exemplos”, salientou.
Não há dados fechados sobre quantas mulheres atualmente prestam serviço na mineração nacional. No corredor sudeste da Vale, esse percentual é de 8%. Porém, Karina ressalta que o objetivo é elevar para 28% a participação feminina no corpo de empregados.
“Para isso estamos realizando formação de liderança, além de captação e fomento nas escolas técnicas e faculdades, para estarmos preparadas para quando essas mulheres chegarem no mercado”, pontuou.
Na Anglo American esse percentual ultrapassa os 20%, apenas nos cargos gerenciais. No total, a empresa possui 1.259 mulheres trabalhando em suas operações no Brasil, sendo 631 funcionárias próprias. Para aumentar esse número e falar sobre a importância da equidade de gênero no setor, a empresa criou, em março deste ano, um grupo de trabalho com atuação em todas as unidades da Anglo no mundo.
De acordo com a diretora financeira da empresa, Ana Sanches, a equidade de gêneros precisa estar na agenda das empresas para que as mulheres realmente sejam valorizadas e tenham cada vez mais espaço no setor. “Acredito no valor da diversidade e que ela traz resultados no mundo corporativo. Mais do que isso, a empresa deve proporcionar inclusão e isso é uma escolha”, frisou.
A analista comercial da área de mineração do Ministério de Comércio Internacional do Reino Unido no Brasil, Nathalia Gomide, destacou a importância do debate. “As mulheres têm se mostrado relevantes em diversos setores econômicos e seu papel na mineração tem crescido nos últimos anos. Porém de maneira mais tímida quando comparado com outros setores. O objetivo do painel Women in Mining é justamente apresentar essas importantes mulheres que atuam em diferentes áreas das mineradoras e trazer para discussão as oportunidades, os desafios e abrir um diálogo que o Reino Unido já promove nesta questão”, disse.
Machismo e maternidade
Em alguns momentos elas contam que precisaram enfrentar obstáculos, mas que estes nunca as impediram de prosseguir em ascensão. Um deles foi a maternidade: Maria José teve quatro filhos; Karina, dois; e Ana chegou a receber uma promoção quando estava no fim da gestação. Para isso, elas destacam a importância de que os homens compreendam que a divisão de tarefas do lar e na criação dos filhos deve ser feita de forma igual, para que ambos possam concretizar seus objetivos profissionais.
Outro desafio menor em alguns casos foi o machismo. Elas contam que, felizmente, na maior parte das vezes não foram desacreditadas pela condição feminina. Exceto pequenas piadinhas, que nada impactaram para o crescimento profissional.
“Eu era a única mulher da minha turma, na década de 70. Meus colegas sempre me respeitaram, mas alguns professores insistiam em alguns comentários inadequados. Na nossa primeira visita externa, um deles me disse para não ir de salto, mas mal sabia ele a alegria que eu estava por ter comprado minha primeira bota de campo”, relembra Maria José Salum.