Perspectiva de forte expansão nos EUA, demanda chinesa e oferta restrita fazem cotações disparar.
A alta recorde nos preços das commodities, principalmente minério de ferro e cobre, neste mês está atrelada a vários fatores. Além da forte demanda da China por matérias-primas, puxada por estímulos do governo e investimentos em infraestrutura, há receios de gargalos na oferta e expectativa de uma expansão vigorosa dos EUA, com os planos de investimentos anunciados pelo presidente Joe Biden, e outras nações desenvolvidas, o que levou ferro e cobre a romper suas cotações máximas.
Os preços do minério seguiram em disparada no mercado à vista e renovaram, nesta segunda (10), o recorde histórico ao passar US$ 230 a tonelada. A forte valorização foi generalizada e também os tipos de maior qualidade e teor marcaram a maior cotação da história.
No porto chinês de Qingdao, a tonelada do minério com teor de 62% encerrou o dia a US$ 230,56, com valorização de 8,6%, ou de US$ 18,31, frente a sexta-feira (07). Com esse desempenho, a principal matéria-prima do aço acumulou ganho de 22% em apenas dez dias de maio. No ano, a valorização chega a quase 44%. Já o cobre, principal metal industrial, atingiu US$ 10,3 mil a tonelada, sua máxima histórica.
Para Yuri Pereira, da XP Investimentos, essa alta nos preços das commodities reflete o descompasso entre demanda e oferta. “Essa evolução ocorre na esteira do crescimento mais forte da China. Tem mais a ver com os estímulos econômicos que foram concedidos pelo governo”, afirmou.
Segundo ele, se a produção de aço continuar 15% mais alta, como ocorreu no primeiro trimestre, os preços do minério de ferro têm tudo para ficar nesses níveis até o final de 2021. “O mercado espera que a produção de aço se desacelere, pois nos últimos cinco anos, o crescimento médio no setor siderúrgico chinês foi de 6%. O que se esperava era um desempenho nesse patamar e veio mais que o dobro no primeiro trimestre. O mercado está digerindo isso”, disse Pereira.
Segundo o periódico Financial Times (FT), os preços futuros do minério em Cingapura subiram para mais de US$ 226 a tonelada, um recorde em dólares. Em Dalian, na China, principal centro de negócios de commodities do país, o preço do contrato futuro mais ativo para setembro, também subiu 10%.
Assim como outras matérias-primas, o minério de ferro vem sendo impulsionado pela força da demanda, que se beneficia da rápida recuperação da economia chinesa e que deverá ganhar ainda mais tração com as medidas de apoio de governos do resto do mundo.
“Não é somente a China agora, é a força de toda a recuperação da indústria do aço mundialmente”, disse Justin Smirk, economista sênior da Westpac, ao FT. “Acho que a realidade é que o mercado ainda está incrivelmente apertado [na relação entre oferta e demanda], ainda teremos preços do aço muito, muito fortes”, afirmou ao FT.
Na China, o preço do vergalhão de aço, usado na construção civil, subiu para US$ 865 a tonelada, antes os US$ 660 do início do ano. “Esses níveis de preços são recorde e superam as alturas atingidas na onda de alta pré-2010”, escreveu a Clarksons Platou Securities em nota a clientes. Já a tonelada do aço plano no país chegou a US$ 1,015, batendo o nível mais alto da série histórica, em julho de 2008.
A produção chinesa de aço subiu 19% em março, apesar dos esforços de Pequim para restringir as atividades e atingir suas metas ambientais, de acordo com o FT. As importações chinesas vêm subindo em meio a seu apetite por matérias-primas, acompanhando o avanço das exportações.
Para Daniel Sasson, analista de mineração e siderurgia do Itaú BBA, os movimentos no mercado (desta segunda) deve ser explicado pela demanda forte se contrapondo a uma oferta restrita, tanto no minério de ferro quanto do cobre. “Acredito que o preço, no entanto, principalmente do minério deve se ajustar ao longo do ano. Ninguém aposta em níveis de US$ 230 a tonelada até o final de 2021. Essa disparada se explica pela demanda acelerada e oferta restrita para o minério de ferro e cobre”, disse Sasson.
Em relatório do banco Santander, do último dia 26, o analista de mineração e siderurgia, Rafael Barcellos, afirmou que a tendência dos preços do minério de permanecer no pico podem persistir por mais tempo “dada uma combinação de demanda sólida e estoques magros de minério de ferro nos portos e incertezas de abastecimento ativo”, disse Barcellos.
A perspectiva positiva do lado da demanda contrasta com receios crescentes quanto à oferta, sobretudo após a suspensão do acordo comercial China-Austrália. A Austrália é a maior fornecedora de minério aos chineses
Para o cobre, o relatório aponta que os preços devem permanecer em alta no curto prazo principalmente após os temores de interrupções no fornecimento no Chile e no Peru. “Quanto à demanda, continuamos vendo tendências positivas vindo da China.”
Por Valor Econômico.