O setor busca incrementar suas práticas para aumentar a produtividade sem deixar de lado a sustentabilidade, como a redução na emisão de CO2. 

A indústria do cimento de Minas Gerais, o maior produtor do Brasil – com quase um quarto da fabricação nacional – está em uma missão na Expo Dubai, nos Emirados Árabes, em busca da captação de inovações, desenvolvimento tecnológico e mais sustentabilidade. O evento começou em outubro e vai até março de 2022. 

O setor quer mais produtividade sem deixar de lado práticas que não agridam o meio ambiente. Segundo o  presidente-executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) e da Associação Brasileira de Cimento Portland, Paulo Camillo Penna, a proposta é contribuir cada vez mais para o ecossistema sem aumentar a geração de resíduos.

“A ideia é que a gente tenha olhares principalmente para uma indústria que contribui com a construção, a mobilidade e a infraestrutura, com menor formação de resíduos, mais moderna e com sustentabilidade ESG (environmental, social and governance – ambiental, social e governança, em português)”, explicou Penna.

Nesta época de emergência climática, a Expo Dubai está notadamente marcada para avanços que têm a sustentabilidade como mola propulsora. E a Indústria de Cimento brasileira, segundo Penna, tem tentando liderar esforços, com projetos que avancem nas questões sustentáveis. Até porque, no atual processo de urbanização acelerada do mundo, que traz a expectativa de que em 30 anos toda a população mundial chegará a 70% nos centros urbanos, no Brasil, 80% da população já é urbana exigirá ações imediatas.

“Há uma enorme preocupação com a mobilidade nas cidades e uma tentativa efetiva de reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, ressalta. “A Indústria de Cimento é uma das maiores emissoras de CO2, só que enquanto a média mundial representa 7% das emissões, no Brasil, é 2,3%. No país, para cada tonelada de cimento são emitidos 564 quilos de CO2, enquanto a média global é 620 quilos. Isso demonstra que a gente tem feito avanços no desenvolvimento de novas tecnologias, em inovação, mas queremos mais”, argumentou Penna.

Ele pondera que a Indústria de Cimento nacional inova desde a instalação de sua primeira fábrica, em 1926. Nos anos 60, o setor identificou que a escória resultante da produção de aço, adicionada ao cimento, aumentava significativamente a sua resistência, para uso em regiões como à beira-mar, onde fatores ambientais influenciam na durabilidade dos materiais.

Matérias-primas sustentáveis

E, assim, perto de completar um século, a indústria do cimento no Brasil usa como matéria-prima, por exemplo, cinzas resultantes da operação das termelétricas. “O Brasil tem hoje uma situação vergonhosa, contando ainda com mais de 3.000 lixões. E a indústria do cimento, por sua vez, vem utilizando o resíduo não reciclável residencial e comercial também como combustível. Com a crise do petróleo dos anos 60, a Indústria do Cimento foi a primeira a substituir o óleo combustível por outros insumos”, complementa Penna.

Dessa forma, destaca ele, o lixo urbano, em vez de ir para lixões ou aterros sanitários, substitui o coque – reconhecidamente emissor de CO2 -, na linha de produção do cimento brasileiro. Penna informou que o setor fez um estudo em todo o país, identificando, região por região, resíduos típicos que poderiam ser assimilados pela Indústria do Cimento, como caroço de açaí, e casca de babaçu, no Norte; cavaco de madeira, no Centro-Oeste, moinha de carvão da produção de aço, no Sudeste, e casca de arroz, no Sul.

“A gente fez um estudo para transformar esses materiais em combustível alternativo. Temos também os resíduos industriais, usados com o mesmo objetivo. O plástico, por exemplo, pode ser processado e transformado em fonte de energia alternativa, em vez de se tornar um passivo ambiental”, detalhou.

“Queremos acabar com a ideia de que o Brasil é um dos últimos países a enterrar a energia, utilizando o resíduo como fonte alternativa de energia”, diz ainda. “E o que a gente busca em Dubai é avançar ainda mais no que diz respeito à economia circular, à redução do carbono e a manter a indústria de cimento brasileira entre as mais eficientes do mundo”, concluiu.

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