Aprovação da metodologia inédita representa um importante passo na consolidação do Brasil no mercado voluntário internacional de carbono.
A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e a Reservas Votorantim vão emitir o primeiro crédito de carbono do Cerrado a partir de florestas conservadas. A iniciativa será viabilizada por meio do Legado Verdes do Cerrado, reserva privada de desenvolvimento sustentável, localizada em Niquelândia (GO), propriedade da CBA, que será a primeira área a integrar o Programa REDD+ Cerrado.
A área certificada tem 11,5 mil hectares e capacidade de emissões médias anuais de 50 mil créditos de carbono. Na primeira emissão, serão gerados 316 mil créditos de carbono, referentes ao período de 2017 a 2021.
A iniciativa, pioneira no país e no mundo, tem entre seus objetivos promover a conservação da biodiversidade do bioma, e contou com as consultorias ERA (Ecosystem Regeneration Associates) e ECCON Soluções Ambientais no desenvolvimento e implementação do projeto.
Para a CBA, fundadora e mantenedora do Legado Verdes do Cerrado, a sustentabilidade faz parte de uma agenda estratégica global e urgente, sendo ponto de partida que estrutura e orienta suas iniciativas. “Como líderes, temos a responsabilidade em atuar como agentes da mudança, engajando o mercado e a sociedade na implementação de práticas ESG. Nesse contexto, a iniciativa é alavanca para a conservação da floresta em pé, fomento para o mercado de carbono no Brasil e um caminho para a construção de uma consciência colaborativa em prol do desenvolvimento sustentável”, afirma Ricardo Carvalho, CEO da Companhia.
A CBA possui um dos mais baixos índices de emissões de CO2 do mercado de alumínio global e tem como objetivo reduzir ainda mais suas emissões de CO2 em 40% até 2030.
Segundo a companhia, além da metodologia inédita e com reconhecimento global, o Programa REDD+ Cerrado tem um componente inovador entre os projetos REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), que buscam diminuir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) para se evitar o desmatamento e conservar áreas florestais.
“Após mais de dois anos de estudos, conseguimos adaptar para o Cerrado uma das metodologias mais respeitadas do mundo, que antes só era aplicada na Amazônia. A aprovação do Programa nesse modelo representa um importante passo na consolidação do Brasil no mercado voluntário internacional de carbono”, afirma David Canassa, diretor da Reservas Votorantim.
Os créditos do Cerrado foram auditados e registrados pela Verra, uma plataforma global que faz a custódia dos créditos. A empresa criou os Verified Carbon Standards (VCS), padrões que são tidos como referência atualmente. A metodologia utilizada (VM0009) é específica para florestas e savanas, aplicada para desmatamento planejado (avoided planned conversion – APD), no contexto do bioma.
De acordo com Canassa, a possibilidade de emitir crédito de carbono a partir do Cerrado, não só vai ajudar grandes empresas em todo o mundo a atingir o objetivo de reduzir suas emissões e alcançar o carbono neutro, como também vai impulsionar um mercado com enorme potencial. “O mercado voluntário é um caminho e o Programa REDD+ Cerrado vem contribuir para sua maturação e no enfrentamento de questões globais tão latentes”, acrescenta.
Venda dos créditos
As propostas para o primeiro leilão dos créditos de carbono do Cerrado já começaram a ser recebidas e vão até o final de setembro. O resultado será divulgado em outubro. “Nossa expectativa é alcançar, principalmente, os usuários finais desses créditos. Dessa forma, o preço não será o único critério na escolha das propostas, pois queremos fidelizar empresas que pretendem usá-los em suas estratégias de descarbonização”, destaca João Daniel de Carvalho, diretor de desenvolvimento de negócios da ERA, consultoria voltada para o desenvolvimento de projetos de créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais, responsável pelo leilão dos créditos REDD+ Cerrado.
Para Yuri Rugai Marinho, sócio da ECCON Soluções Ambientais, “um dos desafios do projeto no Cerrado, que enfrenta um quadro de crescimento da fronteira agrícola, era comprovar que conservar é rentável, comparando-se com as atividades típicas da região”.
Ele esclarece que “foi possível conciliar um projeto de REDD em uma área de excedente florestal conservado, com produção agropecuária em áreas adjacentes. A área de vegetação nativa excedente destinada ao projeto ficará separada para conservação, sendo protegida por no mínimo 30 anos”.
De acordo com Hannah Gabriela Simmons, CEO e fundadora da ERA, os créditos de carbono gerados vão complementar a produção de grãos e/ou carnes do produtor, diversificando sua renda e reduzindo os riscos de possíveis choques de mercados. “O Cerrado contém a maioria das nascentes das nossas principais bacias hidrográficas. Não cuidar desse bioma e seus excedentes florestais, agora, é contribuir para a desertificação do centro-oeste, norte e nordeste do país”, assegura.
Cobenefícios
O Legado Verdes do Cerrado compreende um território de aproximadamente 32 mil hectares, tamanho correspondente à cidade de Belo Horizonte, e representa um relevante remanescente de Cerrado no Brasil. Cerca de 20% do espaço é destinado à economia tradicional, enquanto os 80% restantes permanecem com cerrado nativo conservado.
Há cinco anos, desde quando foi criado, são desenvolvidas iniciativas como pesquisas, com resultados importantes para a geração de conhecimento sobre o bioma, projetos sociais, além de atividades da nova economia, como produção de plantas. “Nesse sentido, nosso Programa já se mostra viável porque nossos cobenefícios não são promessas, nós já fazemos e vamos ampliar com a entrada dos recursos dos créditos”, assegura David Canassa.
O diretor estima que parte dos recursos serão direcionados ao entorno do Legado, em investimentos em pesquisas científicas, ações para manutenção e conservação da biodiversidade, treinamento e combate a incêndios florestais e programas de incentivos a negócios da nova economia. Além disso, o projeto prevê a criação de um comitê de gestão do REDD+ Cerrado para acompanhar o planejamento financeiro e monitorar a aplicação dos recursos.