Mesmo com o recuo no faturamento, setor gerou mais de 5 mil vagas diretas no ano passado.

O desempenho da indústria mineral em 2022, divulgado nesta terça-feira (07) pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), apontou queda de 26% no faturamento em relação a 2021, muito em função da menor demanda por minério de ferro pela China e queda no preço dessa commodity (-25%). O faturamento da indústria mineral caiu de R$ 339 bilhões (2021) para R$ 250 bilhões em 2022.

De acordo com a entidade, entre as razões para a queda estão as medidas de lockdown contra covid-19 na China, que reduziu a produção siderúrgica e o controle de estoques de minério de ferro nos portos chineses. Ambos influenciaram na redução de 25% nos preços do minério de ferro.

A produção de minérios estimada em 2022 foi de 1,05 bilhão de toneladas, 12% abaixo do total produzido em 2021, de 1,19 bilhão de toneladas.

Os maiores estados produtores de minérios do país, Minas Gerais e Pará, observaram queda de 30% no faturamento (de R$ 143 bilhões para R$ 100,5 bilhões) e de 37% (de R$ 146,6 bilhões para R$ 92,4 bilhões), respectivamente.

Minas Gerais e Pará também perderam participação no total de faturamento na mineração brasileira: o share de MG caiu de 42% (2021) para 40% (2022) e o do PA caiu de 43% para 37%.

Os estados que tiveram desempenho positivo no faturamento em 2021 foram: São Paulo (31%), Mato Grosso (8%), Bahia (7%) e Goiás (5%).

Com relação aos minerais, o minério de ferro apresentou queda no faturamento de 39% (R$ 153,5 bilhões em 2022). Com este resultado, a participação do minério de ferro no faturamento nacional caiu de 74% em 2021 para 61% em 2022. Outros minerais também apresentaram declínio, como ouro, queda de 12% (R$ 23,9 bilhões em 2022) e cobre, queda de 15% (R$ 15,2 bilhões em 2022).

Já o Calcário dolomítico apresentou alta de 39% (R$ 8,6 bilhões em 2022), bauxita, alta de 8% (R$ 5,7 bilhões em 2022) e granito, alta de 23% (R$ 5,1 bilhões em 2022).

Impactos externos no setor

Segundo o Ibram, o setor mineral é sujeito à volatilidade em seus resultados por sofrer grande influência da demanda externa por minérios, principalmente, da China. Dos oito minérios mais exportados pelo Brasil, a China aparece entre os principais compradores para sete deles: é o principal comprador para minério de ferro, manganês e nióbio; é o segundo maior para cobre e pedras naturais e revestimentos ornamentais; quarto maior para alumínio e quinto maior para caulim.

Com menor fluxo de exportações em 2022, o setor viu decair a contribuição do saldo mineral para manter o saldo positivo da balança comercial. Em 2021, o saldo mineral era equivalente a 80% do saldo da balança total, mas em 2022 foi equivalente a 49%, ou quase 40% a menos. Em 2023, segundo o Ibram, as perspectivas do setor mineral indicam estabilidade em relação aos resultados de 2022.

“Entre os cenários de alto risco para o setor mineral em 2023 está o da criação de novos encargos, como taxas de fiscalização estaduais. Essas estão se proliferando, elevando os custos dos projetos minerais, fragilizando a competitividade internacional, o que irá refletir negativamente na atração de investimentos para essa indústria no país”, avalia o IBRAM.

“Estamos diante de um cenário de recessão e nenhum país, em especial o Brasil, pode abrir mão de gerar cada vez mais repercussões positivas em sua economia, como a mineração é capaz de produzir. Mas, infelizmente, o que se vê é que a mineração legalizada sofre seguidos ataques especulativos sobre suas receitas; mudança das regras que afetam a previsibilidade e a segurança jurídica. São verdadeiras punições, independente se ela está ou não registrando um bom desempenho. Ou seja, há enorme risco de a projeção de investimentos entrar em declínio, assim como a expansão sustentável da mineração legalizada”, diz Raul Jungmann.

Indústria da mineração ocupa pequena parcela do território

Os dados do Ibram mostram que a atividade mineral foi realizada em maior escala, em 2022, em 2.699 municípios, com base no recolhimento da CFEM (royalty do setor), o que equivale a quase à metade (48%) dos municípios brasileiros; foram produzidas 91 tipologias minerais, por mais de 7.300 empresas e microempreendedores individuais.

A mineração industrial, segundo o governo, ocupa uma área equivalente a 0,06% do território nacional; já dados do projeto MapBiomas indicam que, em 2022, esse setor desenvolvia atividades em uma parcela de 0,02% do território nacional, ou 169,8 mil hectares, de um total de 851,6 milhões de hectares.

Além de baixa ocupação territorial, outro ponto positivo da indústria mineral, segundo o Ibram, é que dos 15 municípios que mais arrecadaram royalties em 2022, dez (oito em Minas Gerais e dois no Pará) apresentam IDH – índice de desenvolvimento humano superior ao IDH de seus respectivos estados.

Mais empregos nas mineradoras

A indústria da mineração também criou mais empregos diretos em 2022, segundo o Ibram. “Foram criadas mais de 5,7 mil vagas, de janeiro a novembro, totalizando quase 205 mil empregos diretos; incluindo os indiretos, a mineração gera mais de 2 milhões de vagas. Boa parte dos investimentos projetados até 2027 se refere a projetos socioambientais das mineradoras associadas ao Ibram, em cumprimento aos avanços da Agenda ESG da Mineração do Brasil”, diz Raul Jungmann, diretor-presidente do instituto.

A Agenda ESG representa um conjunto de compromissos, metas, ações e indicadores para tornar o setor mineral ainda mais sustentável, seguro e responsável. Ela abrange ações em doze áreas relacionadas à atividade mineral, como segurança de processos; barragens e estruturas de disposição de rejeitos; mitigação de impactos ambientais; inovação; energia; água, entre outras.

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