Briquete de minério de ferro terá papel fundamental para a produção de aço zero emissão.

Um novo passo rumo à descarbonização da siderurgia mundial foi dado nesta terça-feira (12), com o início do funcionamento da primeira planta de briquete de minério de ferro do mundo, na Unidade Tubarão, da Vale, em Vitória, no Espírito Santo.

A inauguração acontece após quase 20 anos de pesquisas nos laboratórios da empresa em Minas Gerais, que resultaram em um produto com o potencial de reduzir em até 10% as emissões de gases de efeito estufa no alto-forno e, ainda possibilitar, no futuro, a produção de aço de zero emissão a partir da disponibilidade do hidrogênio verde.

Os testes com carga na primeira planta começaram em agosto e, segundo a Vale, apresentaram bons resultados, possibilitando o início da operação da primeira planta ainda em 2023. Uma segunda planta em Tubarão tem inauguração prevista para o início do próximo ano.

O investimento total foi de R$ 1,2 bilhão, gerando 2.300 empregos no pico das obras e, juntas, as plantas terão capacidade de produzir 6 milhões de toneladas de briquete por ano.

O presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, acionou simbolicamente o funcionamento da planta de briquete e destacou que o produto vai auxiliar os fabricantes de aço a se adequarem às metas de redução de emissões e contribuírem para o combate à mudança climática. “Além disso, estamos induzindo a neoindustrialização do Brasil, que será baseada na indústria de baixo carbono, e cumprindo mais uma vez a vocação da Vale de âncora do desenvolvimento regional”, afirmou.

Durante a solenidade de inauguração da planta de briquete, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, ressaltou a convergência entre os planos de descarbonização da Vale e do Estado. “Como nós temos um plano de descarbonização, que é a redução de 27% até 2030, 50% até 2040 e 100% até 2050, a Vale vai cumprir um papel fundamental. Este é um passo que vai vir seguido de outros passos em direção à nossa sustentabilidade”, disse.

O vice-governador e secretário de Desenvolvimento do Espírito Santo, Ricardo Ferraço, reforçou que a nova planta está alinhada ao projeto de descarbonização da economia. “Foi aqui no Espírito Santo que o Brasil viu acontecer a primeira pelotizadora de minério do país. Com esse trabalho de P&D extraordinário que os colaboradores da Vale puseram de pé, estamos apresentando ao mundo a primeira planta de briquete, que é menos emissor de CO2”, avaliou.

Mais de 30 empresas já demonstraram interesse em receber carregamentos de briquete em 2024. Por se tratar de um produto inovador, a produção dos dois primeiros anos será destinada a testes nas instalações desses clientes.

A maioria dos interessados é de Europa e do Oriente Médio, mas houve pedidos de clientes de todo o mundo, inclusive do Brasil, garantindo a demanda por mais de um ano. Em 2024, as duas plantas de Tubarão irão produzir cerca de 2,5 milhões de toneladas. A produção crescerá gradativamente até atingir os 6 milhões de toneladas por ano.

“A descarbonização da siderurgia se dará em etapas. Na primeira, nossos clientes estão buscando formas de aumentar a eficiência operacional na rota de alto-forno, reduzindo o gasto de energia e, consequentemente, diminuindo emissões de CO2. Nesse estágio, o briquete já faz diferença. E na etapa final, quando o hidrogênio verde estiver disponível, o briquete contribuirá para a produção de aço de zero emissão, o que será feito por meio da rota de redução direta, considerada mais ‘limpa’ que a do alto-forno”, explicou o vice-presidente executivo de soluções de minério de ferro, Marcello Spinelli.

O briquete está incluído na estratégia da Vale de reduzir em 15% as emissões de escopo 3, relativas à cadeia de valor, até 2035. A empresa já assinou acordos para oferecer soluções de descarbonização com mais de 50 clientes, responsáveis por 35% dessas emissões.

Entre as soluções propostas, está a construção de plantas de briquete localizadas nas instalações de alguns clientes. A Vale também busca reduzir suas emissões líquidas de carbono diretas e indiretas (escopos 1 e 2) em 33% até 2030, como primeiro passo para zerar suas emissões líquidas até 2050.

O que é o briquete de minério de ferro

Uma inovação totalmente brasileira, o briquete é produzido a partir da aglomeração a baixas temperaturas de minério de ferro de alta qualidade utilizando uma solução tecnológica de aglomerantes, que confere elevada resistência mecânica ao produto final.

Anunciado pela Vale em 2021, o produto emite menos particulados e gases como dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio quando comparado aos processos tradicionais de aglomeração, além de dispensar o uso da água em sua fabricação.

O desenvolvimento do briquete teve início no Centro de Tecnologia de Ferrosos (CTF) da Vale, em Nova Lima, há cerca de 20 anos. A ideia de aglomerar minério de ferro por meio da briquetagem não era nova, mas os pesquisadores tinham dificuldade de garantir que o produto mantivesse a integridade no alto-forno.

A Vale desenvolveu uma solução de aglomerantes que resolveu esse problema. Foram realizados testes em laboratório, depois em fornos de pequena escala e finalmente os testes industriais no alto-forno, que comprovaram a performance e valor do produto.

No momento, a empresa está desenvolvendo a versão do briquete para a rota de redução direta. Testes experimentais foram realizados com sucesso e a empresa já iniciou o primeiro teste industrial, em um reator na América do Norte.

O caminho para o aço verde

A produção de aço mundial se dá, principalmente, por duas rotas: rota de alto-forno e rota de redução direta. O processo via alto-forno é amplamente utilizado pelas siderúrgicas ao redor do mundo, porém altamente intensivo em emissões devido à utilização de coque (produzido a partir do carvão mineral) como principal insumo. Nessa rota, o uso do briquete pode substituir a sinterização, etapa onde ocorre a aglomeração do minério de ferro, permitindo potencial redução das emissões de gases de efeito estufa dos clientes em até 10%.

Já para a produção de aço via rota de redução direta é utilizado o gás natural como alternativa ao coque. Nesse processo, briquetes e também pelotas são utilizados para produção de HBI (hot-briquetted iron ou ferro-esponja) – produto intermediário entre o minério de ferro e o aço –, que por sua vez é colocado em um forno elétrico para produção de aço com menor emissão do que a rota tradicional via alto-forno.

Fornos de redução direta são utilizados em regiões com abundância de gás natural a preços competitivos, como é o caso do Oriente Médio. No ano passado, a Vale fechou acordos com Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Omã para a criação de Mega Hubs, complexos industriais destinados à produção de HBI, inicialmente tendo o gás natural como fonte de energia.

No futuro, com a utilização de hidrogênio verde no lugar do gás, o HBI pode viabilizar a produção de aço verde, com zero emissão de gases de efeito estufa. Além disso, assinamos duas parcerias para estudos de viabilidade de Mega Hubs no Brasil e nos Estados Unidos.

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