A unidade está instalada na Itaipu Binacional e deve produzir 6kg/dia de biosyncrude destinado à obtenção de combustível sustentável de aviação | Crédito: Divulgação

O Brasil ganhou sua primeira planta piloto para produção de petróleo sintético a partir do biogás com foco na produção de combustível sustentável de aviação (Sustainable Aviation Fuel – SAF). A iniciativa é do Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), junto com a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio do projeto H2Brasil.

A Unidade de Produção de Hidrocarbonetos Renováveis contou com investimentos de cerca de R$ 10 milhões do governo alemão, especificamente do Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ).

Instalada nas dependências da Itaipu Binacional, a planta piloto vai produzir 6kg/dia de biosyncrude, que consiste em uma mistura de hidrocarbonetos sintetizada a partir de biogás e hidrogênio verde, que será destinada à produção de SAF.

A unidade vai utilizar até 50 Nm³/dia de biogás produzido na unidade de biodigestão da Itaipu Binacional (UD Itaipu) como fonte de carbono para a produção dos hidrocarbonetos. Além disso, serão utilizados 53 Nm³/dia de hidrogênio verde produzido pelo Núcleo de Pesquisa em Hidrogênio (NUPHI) do Parque Tecnológico Itaipu (PTI).

O biosyncrude produzido na planta será enviado para o Laboratório de Cinética e Termodinâmica Aplicada (LACTA) da UFPR (Curitiba/PR) para caracterização e refino visando a obtenção de SAF. Além disso, o Laboratório de Materiais e Energias Renováveis (LABMATER) da UFPR (Palotina/PR) realizou estudos sobre o processo de reforma a seco do biogás e desenvolveu os catalisadores utilizados na planta piloto.

“Esta é a primeira planta de biosyncrude do país. Seu objetivo é o de viabilizar economicamente uma rota para produção de combustíveis verdes a partir da valorização do biogás por meio da integração das tecnologias de reforma catalítica e Fischer-Tropsch, com ênfase no desenvolvimento do mercado de Power-to-X no estado do Paraná”, destaca o diretor do projeto H2Brasil, Markus Francke.

A parceria entre a Cooperação Brasil-Alemanha e o CIBiogás permitiu ainda a criação de um mapa dinâmico para identificar áreas com maior potencial de produção de SAF no Paraná.

“Esse mapa destaca as regiões mais promissoras para a produção de bioquerosene de aviação a partir do biogás. A análise revela que o Paraná apresenta um potencial de produção de 15 mil metros cúbicos por ano de SAF a partir do biogás gerado pelas plantas em operação que foram mapeadas em 2022 no estado”, explica o diretor presidente do CIBiogás, Rafael Hernando de Aguiar Gonzalez.

Ele afirma, ainda, que esse volume corresponde a aproximadamente 4% do fornecimento total de querosene de aviação na região sul do Brasil em 2023.

A parceria conta também com o apoio da Fundação Araucária, que realizou contrapartida financeira por meio de investimentos no âmbito do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação em Hidrocarbonetos Renováveis (NAPI-HCR).

Para o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e facilitador do NAPI-HCR, Luiz Pereira Ramos, a concepção, instalação e operação da unidade piloto representa um marco para o desenvolvimento do setor de bioenergia do estado.

“Além da clara demonstração de que seu principal objetivo está sendo cumprido que é projetar o Estado do Paraná a uma condição de excelência na busca por tecnologias sustentáveis que possam contribuir significativamente à transição energética para uma economia de baixo carbono”, afirma.

Descarbonização da aviação

Com as metas climáticas estabelecidas no Acordo de Paris, baseadas nos critérios de descarbonização e de emissão zero estipuladas para os anos de 2030 e 2050, foi criado em 2016 o CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), programa que tem como objetivo central criar mecanismos de mercado e complementar os esforços de mitigação de emissões de gases do efeito estufa (GEE) do setor de aviação civil internacional, limitando o aumento das emissões previstas para os próximos anos.

O setor de aviação, que é de difícil abatimento no que diz respeito às emissões de GEE, emite anualmente cerca de 800 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera e por isso tem merecido uma atenção especial da comunidade científica internacional.

Como substituto aos combustíveis fósseis, os combustíveis sustentáveis de aviação podem ser obtidos a partir de diferentes rotas tecnológicas e com matérias-primas que vão de óleos vegetais a etanol e biogás. Várias rotas já foram homologadas nacional e internacionalmente para a produção de SAF, cujo uso está atualmente restrito a misturas de até 50% com o querosene de aviação de origem petroquímica (Jet A-1).

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