Artigo | Inovação e Sustentabilidade: fontes de recursos para o futuro verde da mineração

Tecnologias como automação avançada, sistemas inteligentes de monitoramento e análise preditiva elevam a produtividade e minimizam o impacto ambiental

Por Marcio Rosales*

A mineração enfrenta uma pressão crescente para adotar práticas mais sustentáveis, impulsionadas tanto por exigências regulatórias quanto por uma maior conscientização social sobre questões ambientais. Essa transformação representa uma resposta às demandas externas, abrindo estrategicamente novos mercados e modalidades de financiamento que priorizam a sustentabilidade.

Com a inovação tecnológica no cerne da transformação do setor, o conceito de AIoT (Artificial Intelligence of Things) vem redefinindo as atividades de mineração. Sabemos que as tecnologias como automação avançada, sistemas inteligentes de monitoramento e análise preditiva elevam a produtividade e minimizam o impacto ambiental. Essa integração da Inteligência Artificial com a Internet das Coisas garante operações mais eficientes e sustentáveis, principalmente em iniciativas de descarbonização. Essas tecnologias habilitadoras são essenciais para atrair financiamentos, com um número crescente de investidores buscando apoiar projetos que convergem entregáveis apoiados em retorno financeiro com compromissos ambientais bem definidos.

Sustentabilidade e fomento

A descarbonização é um dos pilares centrais na evolução do setor rumo a práticas mais sustentáveis. Empresas líderes estão adotando projetos que vão desde o uso de energia renovável até a eletrificação completa de operações de mineração, visando reduzir suas emissões de carbono. Por exemplo, uma iniciativa notável é a transição para veículos “off road” elétricos e autônomos, que além de diminuir a dependência de combustíveis fósseis, aumentam a segurança e eficiência operacional. Outro exemplo é o investimento em tecnologias de captura e armazenamento de carbono, aplicadas diretamente nos sites de mineração, uma abordagem que promete impactos ambientais a longo prazo e vantagens financeiras mediante incentivos fiscais e créditos de carbono.

Diante deste contexto, o Programa Finep Mais Inovação Brasil é uma iniciativa destacada para fomentar a inovação por meio de recursos não reembolsáveis. Com montantes destinados que variam entre R$ 3 milhões e R$ 90 milhões por projeto, o programa abre várias chamadas públicas voltadas especificamente para o financiamento de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), especialmente com viés de transição energética e sustentabilidade.

A estrutura do programa permite dois tipos de arranjos: simples e em rede. O arranjo simples envolve uma única empresa, enquanto o arranjo em rede compreende um consórcio de empresas que colaboram em projetos mais amplos. Um requisito essencial dos editais é a colaboração com Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs), promovendo uma integração efetiva entre pesquisa acadêmica e aplicação industrial.

O foco nas subvenções econômicas permite que as empresas participantes absorvam parte dos riscos associados ao desenvolvimento de novas tecnologias, oferecendo uma oportunidade significativa para avançar nos campos da sustentabilidade e inovação tecnológica no setor de mineração e além. Esta colaboração entre setores público e privado é fundamental para impulsionar inovações que possam ser traduzidas em benefícios reais tanto para a economia quanto para o meio ambiente.

Embora o caminho para a sustentabilidade esteja claramente delineado através da adoção de tecnologias inovadoras e projetos de descarbonização, ainda existem desafios substanciais. O alto custo inicial e a complexidade da implementação dessas tecnologias podem ser barreiras a serem consideradas. Além disso, a volatilidade dos mercados de commodities e as incertezas regulatórias podem retardar o ritmo de adoção dessas inovações.

No entanto, com o crescente foco global em mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, espera-se que haja um aumento na disponibilidade de fontes de fomento, como fundos não reembolsáveis e incentivos fiscais, que podem aliviar parte desses desafios financeiros. Olhando para o futuro, a colaboração entre governos, instituições financeiras e empresas de mineração será crucial para acelerar a transição para práticas mais sustentáveis. Essa sinergia entre os diferentes stakeholders, juntamente com uma regulamentação favorável, poderá moldar um setor de mineração, contribuindo para aumentar sua participação na economia e liderando pelo exemplo dentro da questão ambiental.

 

*Marcio Rosales atua como Innovation Expert na ABGi Brasil. É graduado em Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Mestre em Desenvolvimento Tecnológico pela UFSCar (2009), Doutor em Desenvolvimento Tecnológico pela UFSCar (2020) e MBA em Gestão Financeira pela ESAMC (2016).

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