O Brasil alcançou a marca de 16 anos consecutivos com índices de reciclagem de latas de alumínio superiores a 96%, consolidando-se como referência global e um modelo bem sucedido de economia circular. Somente em 2024, 97,3% das latas de alumínio para bebidas foram recicladas no país, o equivalente a 33,9 bilhões de unidades ou 417,7 mil toneladas de material reaproveitado.
Os dados são da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) e da Associação Brasileira da Lata de Alumínio (Abralatas), consolidados pela Recicla Latas. Apesar das latas representarem um recorte do sucesso da economia circular, o desempenho da reciclagem de alumínio no Brasil abrange diversos produtos e fluxos de sucata.
Em 2024, cerca de 1 milhão de toneladas de produtos de alumínio consumidos no Brasil – equivalente a 57% do total – veio de metal reciclado, quase o dobro da média global (28%). Esses números mostram que a reciclagem vai muito além das latas, reforçando o protagonismo da indústria nacional na economia circular e no abastecimento do mercado interno com material reciclado.
Grande parte desse desempenho está relacionado ao pioneirismo da indústria brasileira do alumínio que, desde a década de 1990, vem investindo em rede própria de coleta e capacidade de reciclagem, criando infraestrutura para que fabricantes e envasadores cumpram seus compromissos de logística reversa previstos na PNRS, vigente desde 2010.
Com o tempo, a colaboração do setor privado se integrou às políticas públicas e metas formais de logística reversa, fortalecendo-se por meio de parcerias estratégicas e engajamento social.
A cadeia da reciclagem inclui fabricantes, recicladores, cooperativas e catadores – muitos deles empreendedores que veem nessa atividade uma fonte relevante de renda e oportunidade de ascensão econômica.
Para a presidente-executiva da ABAL, Janaina Donas, este resultado confirma o alumínio como aliado estratégico da economia circular e da descarbonização.
“O pioneirismo da indústria brasileira transformou resíduos em valor, garantindo competitividade, segurança de suprimento, ganhos ambientais e sociais, além de posicionar o Brasil como referência global em circularidade”, afirma.
Se por um lado o Brasil tem avançado no desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao aperfeiçoamento da gestão de resíduos, dos sistemas de logística reversa, além da criação de instrumentos que incentivam a circularidade, aumentam o conteúdo reciclado de produtos e promovem a rastreabilidade, os acontecimentos no cenário global ameaçam desestabilizar uma das maiores vantagens competitivas do país.
A guerra tarifária e a crescente disputa internacional por metal reciclado – impulsionada pela busca por produtos de menor intensidade de carbono – criam um ambiente de arbitragem comercial que beneficia apenas intermediários internacionais, que se aproveitam da especulação e não têm compromisso com a industrialização, geração de emprego, renda ou metas de descarbonização do Brasil.
“Esses agentes de arbitragem não investem em transformação industrial nem contribuem para o fortalecimento da cadeia nacional. Enquanto isso, a indústria brasileira, que construiu uma infraestrutura robusta para alimentar um ciclo virtuoso de circularidade, observa com preocupação a saída de um insumo estratégico, que volta ao país como produto importado de maior valor agregado, comprometendo competitividade, metas climáticas e o desenvolvimento local”, alerta Janaina Donas.
O cenário reforça a necessidade de políticas públicas e instrumentos que garantam rastreabilidade e valorização da sucata no mercado interno, permitindo que o Brasil continue a liderar a reciclagem de forma sustentável, gerando empregos, renda e reduzindo a pegada de carbono de sua produção industrial.