Diante da perda de R$ 4,4 bi de faturamento, provocada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), Samarco agiliza obras emergenciais e de recuperação ambiental para obter as licenças necessárias a fim de voltar a operar no local.

A paralisação das atividades da Samarco devido ao rompimento, em novembro de 2015, da barragem de Fundão, no Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), implicará, em 2017, uma perda de R$ 4,4 bilhões de faturamento direto e indireto na cadeia de produção da companhia, o que corresponderia a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mineiro e a uma redução de R$ 989 milhões na arrecadação de impostos federais, estaduais e municipais. Os dados são de um estudo conduzido pela Tendências Consultoria Integrada, a pedido da BHP Billiton, uma das acionistas da Samarco, e apresentam os aspectos econômicos do evento que somam ainda perdas ambientais e sociais.

Com análises macroeconômicas de projeções da empresa, seguindo a produção dos anos anteriores da companhia, o estudo conclui que a continuada paralisação coloca em risco cerca de 20 mil postos de trabalho, sendo Minas Gerais o Estado mais afetado, com 14.531 vagas a menos, e Espírito Santo o segundo, com 4.111.

Conforme o presidente da Federação da Indústria de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Junior, ressalta, é importante para o Estado que se possam retomar as atividades da mineradora, uma vez que não há vínculo entre os reparos (ambientais) e a continuidade da produção. “A Samarco precisa ser considerada empresa, e suas dificuldades devem ser levadas em conta. Caso contrário, os reparos ambientais da Renova (instituição constituída para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão) serão feitos, a empresa encerrará as atividades, e nós perderemos um grande potencial em Minas Gerais”, enfatiza.

FOCO NA RETOMADA

Para conseguir voltar a extrair minério de ferro na mina de Fundão, a Samarco aguarda duas licenças ambientais junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). A primeira delas é o licenciamento da Cava de Alegria Sul, solicitado em 2016, para a disposição de rejeitos. Além de utilizar uma cavidade já existente no solo, a estrutura contaria ainda com um dique de 10 m de altura feito em solo compactado, resultando em uma capacidade total de armazenamento de 17 milhões de metros cúbicos de rejeito.

Segundo a companhia, a utilização da cava seria uma alternativa temporária para a disposição de rejeitos em um futuro retorno das operações com 60% da capacidade produtiva (18 milhões de toneladas de pelotas por ano). A empresa conseguiria, assim, gerar fluxo de caixa necessário para manter empregos e contribuir para o desenvolvimento das economias dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e, consequentemente, do país. Contudo, segundo o coordenador da área de estudos, projetos e pareceres da Tendências, Eric Brasil, após a retomada das atividades, partindo de um patamar de 60%, a Samarco demoraria de três a quatro anos para atingir sua capacidade máxima.

Em outra frente, a companhia está concluindo os estudos ambientais para o Licenciamento Ambiental Corretivo (LOC) do Complexo de Germano, que irá integrar em uma única licença todas as estruturas existentes no complexo. A LOC foi solicitada pela Semad para assegurar a viabilidade ambiental do empreendimento.

PRIORIDADE: ASPECTOS AMBIENTAIS

Antes de voltar a atenção para a operação da mineradora, a companhia precisa eliminar as fontes de contaminação e colocar em funcionamento o resgate ambiental da região afetada. Nesse sentido, boa parte das obras prioritárias e emergenciais na área da mineradora e próximas a Bento Rodrigues já está adiantada.

As últimas a serem entregues foram a barragem de Nova Santarém, no Complexo Minerário de Germano, e o dique S4, em Bento Rodrigues. Enquanto a primeira impede o carreamento de material para fora da área da Samarco, o segundo evita qualquer carreamento de sólidos da área impactada de Bento Rodrigues para o rio Gualaxo do Norte.

As duas estruturas integram um sistema composto também pelos diques S1, S2 e S3, que estão localizados na área da mineradora e tiveram suas obras finalizadas no início de 2016.

Embora eles estejam cumprindo o objetivo pelo qual eles foram desenvolvidos, as ações que realizam especialmente fora da área da mineradora, de Bento Rodrigues até a Usina de Candonga, onde estaria depositado mais de 50% de todo o material da lama que vazou, receberam objeções de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “A partir do dique S3, entramos na área de Bento Rodrigues. De maneira generalizada, as obras dessa região estão atrasadas ou não finalizadas ou não são suficientes. Havia previsão de três diques no rio Gualaxo do Norte, que não foram feitos devido à contestação da Semad, do Ibama e dos próprios consultores da Samarco sobre a eficiência deles para a contenção de rejeitos. Os prazos também estavam muito estendidos e não estariam prontos no período de chuva. Isso prejudicou a classificação como emergência”, explica o superintendente do Ibama em Minas Gerais, Marcelo Belisário. Ele cita, além disso, as chamadas barreiras (barramentos A e B) dentro da Usina de Candonga.

De acordo com a Samarco, as duas barreiras metálicas que estariam sendo construídas no reservatório da hidrelétrica Risoleta Neves têm a função de conter um eventual carreamento dos sedimentos dentro do reservatório, permitindo que eles fiquem confinados em recintos previamente calculados para esse fim. A barreira B deve ser concluída em março. Contando com uma estrutura de 180 metros de extensão e 770 toneladas de aço, está localizada 5,1 quilômetros acima da hidrelétrica Risoleta Neves e terá capacidade para 1,3 milhão de metros cúbicos. Já as obras da A, situada 400 metros acima da hidrelétrica, deverão ser concluídas até o fim de maio. Ela terá 260 metros de extensão, e sua construção demandará 2.400 toneladas de aço.

RENOVA

As obras a partir do dique S4 e da Usina de Candonga serão continuadas pela Renova, uma instituição autônoma e independente constituída para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão. A entidade, sem fins lucrativos, foi criada por meio de um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) assinado entre a Samarco, suas acionistas, os governos federal e dos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, além de uma série de autarquias, fundações e institutos, em março de 2016.

A Renova atuará no manejo e na contenção de rejeitos, assim como na recuperação do solo, da água, da vegetação e da biodiversidade de toda a área atingida.

Ilustração: Divulgação / Samarco
OBRAS JÁ REALIZADAS PELA SAMARCO

Janeiro de 2016
Conclusão dos diques S1 e S2

Fevereiro de 2016
Conclusão do dique S3 (fase 1)

Novembro de 2016
Conclusão do alteamento do dique S3 (fase 2)
Conclusão das primeiras barreiras de contenção

Janeiro de 2017
Conclusão do dique S4
Conclusão de Nova Santarém