Parceria entre Ibram e WIM Brasil pretende estimular empresas minerárias a aumentarem a presença feminina no quadro de funcionários.

 


*No dia em que se comemora o “Dia Internacional da Mulher – 8 de março” o Portal da Revista Mineração relembra a matéria que foi capa de nossa edição impressa em dezembro de 2020, onde tratamos da presença feminina na mineração. Uma pequena homenagem a este dia tão especial e um destaque para a valorização da mulher no setor. Boa leitura!


 

Foi-se o tempo em que a mulher tinha apenas a função de cuidar do lar. Atualmente, elas estão em todos os espaços, contribuindo para a pluralidade de opiniões e ações, incluindo no mercado de trabalho. Na mineração não é diferente: desde cargos operacionais até os de liderança, as profissionais do setor desempenham muito bem suas funções.

Porém, a presença feminina nesse setor ainda é baixa no Brasil: apenas 13%. Em todo o mercado de trabalho nacional elas representam 44% da mão de obra, menos da metade da força de trabalho. A estimativa é do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), com base em pesquisas e informações publicadas pelas empresas de mineração operando no país em 2019.

Para estimular as companhias minerárias a aumentarem a presença feminina no quadro de funcionários e orientá-las como tornar esse cenário uma realidade, o Ibram publicou o “Plano de Ação Avanço das Mulheres na Indústria de Mineração Brasileira”. A iniciativa é uma parceria com o Women in Mining (WIM) Brasil, movimento global de ampliação e fortalecimento da atuação das mulheres na mineração.

O documento, elaborado ao longo de 2019, foi lançado oficialmente em abril de 2020, em um evento on-line, devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Ao todo, 13 empresas aderiram ao projeto: Anglo American, ArcelorMittal, Bahia Mineração (Bamin), Copelmi Mineração, Jaguar Mining, Largo Resources, Mineração Rio do Norte (MRN), Nexa, RHI Magnesita, Samarco, Kinross, Lhoist e Vale.

São mais de 80 páginas, que mostram ações a serem implementadas pelas companhias para aumentar a equidade de gênero nas mineradoras. Para isso, o material sugere oito estratégias que focam em aspectos capazes de mudar a mentalidade da empresa e aumentar a inclusão.

Uma das estratégias se refere ao investimento na educação de meninas para serem incentivadas a atuarem na mineração; outra, a termos e símbolos utilizados nos ambientes operacionais que incluam a presença feminina; há, ainda, o que trata sobre cuidar das mulheres nas comunidades onde a atividade minerária está inserida.

De acordo com a gerente de Assuntos Ambientais do Ibram e vice-diretora do WIM Brasil, Cláudia Salles, o plano teve como base o documento elaborado pelo WIM Canadá, mas adaptando as medidas à realidade brasileira. “Não dá para esperar essa equidade chegar. Precisamos de ações ativas e de iniciativas que sejam prioritárias e pragmáticas para que consigamos mudar esse sistema”, destaca.

ATITUDE PIONEIRA

A gerente-executiva de Operações do Complexo Vargem Grande da Vale, Karina Rapucci, de 41 anos, foi a primeira mulher a ocupar um cargo de gerência operacional na empresa. Engenheira de minas por formação, ela tem 15 anos de experiência na mineradora, onde começou como engenheira e, ao longo dos anos, ocupou cargos de liderança.

Para Karina, a mulher no mercado de trabalho costuma ser ainda mais cobrada, principalmente quando se trata de um setor em grande parte masculino, como o da mineração. “Na minha trajetória sempre tive que provar um pouco mais. No mercado, a mulher nem sempre é reconhecida pelo potencial, mas pelo que faz. Esse é o grande desafio. Mas as coisas vêm mudando”, comenta.

Quando ela assumiu Vargem Grande, em 2018, o complexo em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), tinha menos de 5% de colaboradoras, número que dobrou desde então. Karina conta que só em 2020 contratou 22 mulheres para ocuparem cargos de liderança. “Acredito que o diverso traz o contraponto e esse contraponto traz outros pontos de vista. Assim, conseguimos enxergar novas soluções”, defende.

TIME FEMININO

Atualmente, cerca de 3 mil funcionários estão sob a gerência de Karina. “Eu me sinto muito respeitada na posição que ocupo”, frisa. Entre os novos colaboradores está o time feminino da Fábrica de Blocos do Pico, instalada na Mina do Pico, em Itabirito (MG). A operação vai fabricar produtos para a construção civil, cuja matéria-prima principal será o rejeito de mineração.

Após o período de testes, a expectativa é que, a cada ano, cerca de 30 mil toneladas de rejeito deixem de ser dispostas em barragens ou pilhas para serem transformadas em 3,8 milhões de produtos pré-moldados. A planta é composta somente por mulheres no quadro de colaboradores. “A fábrica vem com foco na sustentabilidade, mas também com o pilar da diversidade, já que é operada apenas por mulheres”, ressalta.

Time feminino da Fábrica de Blocos do Pico, instalada na Mina do Pico, em Itabirito (MG) – Foto: Divulgação / Vale.

Embora tenha avançado na busca por mais equidade no setor de mineração, a Vale assumiu, no fim do ano passado, o compromisso de dobrar o número de mulheres em todas as operações até 2030.

PRODUTIVIDADE E RENTABILIDADE

O plano de ação também trata de inclusão em aspectos ainda mais aprofundados, como violência contra a mulher, assédio e bullying. Ele também norteia como as empresas podem transformar os ambientes para deixá-los mais seguros e acolhedores para as profissionais da mineração.

Outro aspecto relevante é orientar como as companhias podem se adaptar para receber mulheres, que, muitas vezes, vêm com sobrecargas pessoais a mais que os homens, como o cuidado com a casa e a criação dos filhos. Uma pesquisa feita pelo International Workplace Group (IWG), em 2019, e citada no documento, mostrou que 85% das 15 mil profissionais entrevistadas relataram aumento na produtividade após a adoção de uma jornada de trabalho mais adaptada às suas necessidades.

Outra vantagem da inclusão de mais mulheres no setor da mineração é o resultado financeiro das empresas. De acordo com um estudo da McKinsey13, publicado em 2018, e também mencionado no plano, a diversidade de gênero está correlacionada tanto com a lucratividade quanto com a criação de valor.

“O nível de transparência na forma como as companhias estão lidando com a igualdade de gênero no ambiente de trabalho e, também, nas comunidades onde operam está influenciando a tomada de decisões financeiras pelo mundo e auxiliando na justificativa de impacto nos negócios para a criação de ambientes corporativos inclusivos”, afirmou o presidente do conselho da Bloomberg L.P., Peter Grauer, em declaração para o “Mining Journal”, citada no documento do Ibram.

OITO ESTRATÉGIASDO PLANO DE AÇÃO

1: Práticas inclusivas para oportunidades de carreiras.
2: Ambientes de trabalho seguros do ponto de vista físico e psicológico.
3: Habilidade de conciliar trabalho e compromissos pessoais.
4: Sinais e símbolos de inclusão de gênero na cultura e no local de trabalho.
5: Uma indústria que seja um imã de talentos.
6: Diversidade de fornecedores – contratação de empresas lideradas por mulheres.
7: Investimento nas mulheres presentes nas comunidades.
8: Desenvolvimento de talentos para o futuro investindo em STEM (Sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

REPRESENTATIVIDADE NA PRÁTICA

Em 2020, o Índice de Gênero da Bloomberg listou as empresas que demonstram compromisso com a igualdade de gênero por meio de políticas públicas e representatividade. Uma delas é a AngloGold Ashanti.

A gerente sênior administrativo-financeiro da mineradora, Fernanda Bartoli, atua com mineração há 12 anos, sendo há quatro na AngloGold. Ela conta que trabalhar em um ramo predominantemente masculino é desafiador, mas garante sempre ter tido voz nos cargos que exerceu. “Sempre fui cercada no ambiente profissional por pessoas que me permitiram compartilhar minhas ideias. Dentro da companhia temos ações concretas nesse processo de permanência e inclusão de mulheres”, afirma.

Para Fernanda Bartoli, as lideranças femininas da mineração precisam incentivar outras mulheres a se interessarem pelas áreas correlatas ao setor – Foto: Divulgação / AngloGold Ashanti.

Essa busca por um ambiente mais plural também se reflete nos cargos de liderança. Atualmente, 522 pessoas estão sob a gerência da executiva. Para ela, ocupar uma função assim, em uma grande mineradora, é representativo para outras profissionais, principalmente àquelas que estão no início da trajetória. “É uma função de responsabilidades. A liderança feminina tem que incentivar cada dia mais mulheres e meninas a se interessarem pelas áreas correlatas à mineração. Um conselho que dou para as mulheres é que tenham coragem. A coragem é fio condutor para a mudança”, defende.

Outra mulher em posição de referência é a engenheira Tatiana Nolasco. Em agosto deste ano, ela se tornou a primeira a assumir uma unidade industrial da ArcelorMittal na América Latina e no Brasil. A executiva se tornou diretora de negócio da operação sul-fluminense da empresa, que abrange as plantas industriais de Barra Mansa e Resende, cuja capacidade anual de produção é de 1 milhão de tonelada de aço bruto. Sob o seu comando estão cerca de 800 colaboradores.

Tatiana atua há 20 anos no setor siderúrgico e começou a carreira como estagiária nessas unidades. Posteriormente, a profissional esteve à frente de várias gerências que a proporcionaram uma visão estratégica e mais conhecimento dos processos. “Apesar de sempre estar em um ambiente predominantemente masculino, nunca me intimidei por ser sempre uma liderança mais jovem que a média e por ser mulher”, afirma a diretora, formada em Engenharia de Produção pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Há 20 anos no setor siderúrgico, Tatiana Nolasco comanda cerca de 800 colaboradores na ArcelorMittal – Foto: Calino Produções.

APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

De acordo com Cláudia Salles, do Ibram, as empresas que aderirem ao plano deverão, efetivamente, implantar as oito estratégias em suas estruturas corporativas, e reportar como tem sido feita essa implementação. A gerente afirma que a Ernst & Young está desenvolvendo indicadores de reporte e verificação a serem utilizados tão logo pelas companhias. No futuro, também serão realizados workshops para acompanhamento das empresas e orientações sobre o plano.

Nestes primeiros meses, Cláudia já percebeu retornos positivos em relação ao plano de ação. Entre as ações mais comuns, a executiva relata que várias empresas começaram a internalizar as pautas de equidade e fazer um diagnóstico interno sobre esse tema. “Uma equipe diversa traz soluções mais inovadoras em termos de pluralidade, deixando os ambientes mais criativos. Essa não é uma agenda da moda. Ela veio pra ficar”.

SAIBA MAIS

Acesse o site do Women in Mining Brasil e veja as iniciativas para incluir as mulheres no mercado da mineração. Nele também é possível fazer o download do plano de ação.

 


 

Ana Cunha – Foto: Divulgação / Kinross.

UMA BRASILEIRA ENTRE AS 100 MULHERES MAIS INSPIRADORAS DO MUNDO

A diretora de Relações Governamentais e Responsabilidade Social da Kinross, Ana Cunha (foto), foi nomeada como uma das 100 mulheres mais inspiradoras do mundo pela 4ª edição do “Women in Mining UK”. A publicação saiu no dia 19 de novembro.

No total, foram 1,1 mil indicações de 626 mulheres do setor, que trabalham em 356 empresas pelo mundo. A premiação “100 mulheres mais inspiradoras do mundo na mineração” (WIM100) é realizada a cada dois anos. As histórias mais relevantes são selecionadas de acordo com critérios de pioneirismo, liderança, capacidade de acolhimento, espírito de equipe, proatividade, resiliência e determinação para a solução de desafios.

“Acredito na importância de fomentar um ambiente plural e heterogêneo. Há espaço para tornar o setor mais atrativo para mulheres, com retenção de talentos e ampliação de oportunidades em cargos de liderança”, afirma a executiva, que possui 22 anos de carreira no setor.