Maior paleotoca conhecida no estado está sob cuidados da Vale. Recinto é um importante marco histórico da megafauna extinta no Brasil.
Uma caverna escavada por preguiças-gigantes, há pelo menos 10 mil anos, descoberta em 2010 por pesquisadores, em uma área da Vale, próxima ao Parque Nacional da Serra do Gandarela, foi alvo de uma ação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para proibir que a mineradora e o governo do estado fizessem qualquer ação que prejudicasse a área. Acatando o pedido, a Justiça determinou a proteção imediata do sítio pré-histórico.
A caverna, também conhecida como paleotoca, que fica na região do quadrilátero ferrífero, a 40 km de Belo Horizonte (MG), conta com túneis, salões escavados e ranhuras indicando atividade dos animais pré-históricos. Ela possui 340 metros de extensão, sendo a maior paleotoca conhecida até o momento em Minas Gerais.
Segundo a Vale, desde a sua descoberta, em 2010, a estrutura segue protegida e foi classificada pelos estudos da empresa como “cavidade de máxima relevância”, seja por atributos físicos ou biológicos, o que, de acordo com a legislação brasileira, já lhe atribui uma condição legal de proteção permanente (Decreto Federal 10.935 de 12 de junho de 2022).
As preguiças-gigantes, que viveram nas Américas e em nossa região junto com outros animais como Mastodontes, Tigre-dente-de-sabre e Tatus-Gigantes, tinham aproximadamente seis metros de comprimento e peso aproximado de quatro toneladas. Elas viviam em rebanhos e eram herbívoras, ou seja, se alimentavam de folhas, gramíneas, ramos e brotos, e consumiam em média 300 quilos de alimentos por dia.
“Muito embora as paleotocas venham sendo estudadas há relativamente poucas décadas no Brasil, a importância histórica, ecológica e ambiental é indiscutível. São ambientes para a reconstrução da evolução da vida no planeta, mas que atualmente, assim como outras cavernas, também representam um abrigo para espécies raras e endêmicas e que, portanto, necessita de medidas de proteção”, destaca o pesquisador Rodrigo Lopes Ferreira, da Universidade Federal de Lavras.
A paleotoca, nomeada de AP38, está inserida na formação ferrífera e representa atualmente uma das maiores cavernas associadas a este tipo de rocha na região, fornecendo abrigo, local de reprodução e alimento para espécies que vivem na superfície e em ambientes subterrâneos. A cavidade apresenta uma rede de túneis interligados, conectados a uma câmara maior.
As grandes dimensões, marcas de garras nas paredes e tetos, morfologia e seções da caverna permitem atribuir parte de sua gênese às preguiças-gigantes de dois dedos, constituindo um importante registro da megafauna extinta de mamíferos na região.
“A paleotoca é um importante ecossistema do patrimônio espeleológico brasileiro e precisa ter sua integridade física e ambiental preservadas. Para isso, desde 2010, uma série de estudos e medidas preventivas foram realizadas pela Vale, sendo proposto o estabelecimento de uma área de proteção ambiental de aproximadamente 40 hectares no seu entorno, que engloba a paleotoca e toda sua área de influência conforme determina a legislação vigente”, destaca o espeleólogo da Vale, Robson Zampaulo.
Descoberta e proteção
A cavidade natural subterrânea (AP38) foi descoberta durante um levantamento ambiental realizado por espeleólogos a serviço da Vale na região. Desde então, a empresa realiza estudos bioespeleológicos, geoespeleológicos, climáticos, hidrogeológicos, escaneamento a laser, estabilidade geotécnica, delimitação de área de influência, estado de conservação, entre outros.
A empresa ainda elaborou um plano de ação para mitigar possíveis impactos na cavidade, instalação de barreiras físicas e cercamento para limitar o acesso de pessoas não autorizadas, placas de sinalização, implementação de sismógrafos para monitoramento de vibrações, rondas regulares de segurança e monitoramento com aparelhos que registram parâmetros sobre as condições microclimáticas da cavidade (temperatura e umidade) e registro de eventos hídricos e dinâmica das águas.
Segundo a Vale, sua área de entorno também está protegida de forma a preservar sua estrutura física, biodiversidade, condições microclimáticas (como temperatura, umidade) e o aporte de matéria orgânica para no seu interior, sendo esta importante para a manutenção da sua fauna subterrânea que inclui espécies endêmicas.
A mineradora também destaca que, apesar do seu valor científico e histórico, a caverna não apresenta potencial turístico para visitação.