Empresas como Atlantic Nickel e Ferbasa investem em projetos de geração de energia limpa para utilização em suas operações.

Empresas de mineração da Bahia estão aproveitando as potencialidades do estado, na produção de energia renovável, para incluir a fonte em seus planejamentos estratégicos. A Appian Capital Brazil, responsável pela Atlantic Nickel, tem um projeto para a utilização de energia solar nas atividades da mineradora, com investimentos estimados de R$ 100 milhões a R$ 350 milhões. De forma pioneira, a Ferbasa adquiriu, em 2018, o Complexo Eólico BW Guirapá, localizado no município de Caetité (BA), com capacidade instalada de 170 megawatts (MW).

A capacidade de geração de energia no Brasil ultrapassou os 185 gigawatts (GW), segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no início deste mês. Desse total em operação, mais de 80% são provenientes de fontes renováveis: eólica, solar e hídrica.

As informações destacam ainda a Bahia como o estado com maior expansão na capacidade de geração elétrica em 2022, com 671,67 MW, na frente de Minas Gerais (610,40 MW) e do Rio Grande do Norte (521,14 MW) – são as usinas solares e eólicas que respondem pela maior parte da expansão.

“São inegáveis os diferenciais da Bahia quando se trata das possibilidades de crescimento da mineração sustentável. A geração e consumo de energia a partir de fontes renováveis é um caminho estratégico para mineradoras que atuam aqui no estado. Porque, assim, as empresas aumentam a implementação de práticas correspondentes aos critérios ESG (Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Governança) e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com colaboração no enfrentamento do aquecimento global e na redução das emissões de carbono”, diz o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antonio Carlos Tramm.

Energia solar será usada na produção de níquel

O Appian Capital Brazil, fundo de investimentos responsável pelas operações da Atlantic Nickel na Mina Santa Rita, em Itagibá (BA) – através de um contrato de arrendamento firmado com CBPM –, tem um projeto para a utilização de energia solar nas atividades da mineradora, única produtora de níquel sulfetado do país. Na primeira fase do projeto serão investidos R$ 100 milhões e o valor pode chegar a R$ 350 milhões nas fases seguintes.

“O projeto ainda está em estudo de viabilidade, porém existe uma expectativa de uma taxa de retorno em torno de 12% ao ano. Esse é um investimento com retorno abaixo das operações de mineração, portanto aplica-se a ele o conceito de ‘adicionalidade’ do Protocolo de Kyoto, ou seja, a empresa não visa retornos ou lucros ao executá-lo (visto que existem melhores alternativas de uso do capital), mas o faz pelo benefício de ESG”, explica o CFO do Appian Capital Brazil, Milson Mundim.

De acordo com a empresa, o que motivou o projeto é o engajamento nas ações de preservação ambiental para as futuras gerações, além do potencial de economia e a diminuição da pegada de carbono da produção do níquel, que é considerado um metal verde (insumo utilizado na fabricação de baterias para veículos elétricos). A geração de emprego também é um benefício para a região. A Atlantic Nickel deve criar 200 novas vagas na fase de implantação do projeto e 20 para a operação.

Ferbasa é pioneira

Não é de hoje que existe a implementação de fontes de energia renovável no setor mineral da Bahia. A Ferbasa (Companhia de Ferro Ligas da Bahia), que tem um lastro industrial de mais de seis décadas, adquiriu em 2018 o Complexo Eólico BW Guirapá, localizado no município de Caetité, na Região Sudoeste. Com capacidade instalada de 170 MW, sete parques para produção de energia limpa e renovável irão atender parte do consumo próprio da Ferbasa.

A Ferbasa também tem contrato assinado, desde 2021, com a AES Brasil, para fornecimento de 80MW médios de energia eólica, pelo prazo de 20 anos e com início de fornecimento a partir de 2024. Neste caso, o parque fornecedor será no Rio Grande do Norte.

“A Ferbasa abriu um precedente e mostra que a visão de negócios de médio e longo prazo podem incluir, de forma estratégica, investimentos em cadeias produtivas sustentáveis. A contribuição ambiental da energia eólica é indiscutível, sem contar a geração de emprego e renda numa atividade com objetivos que ultrapassam a esfera dos benefícios locais, são verdadeiros legados para as próximas gerações. Com a geração de energia limpa, a Ferbasa é um exemplo a ser seguido”, destaca Tramm.

Para José Nunes, secretário de Desenvolvimento Econômico, quando as empresas passam a utilizar energia a partir de fontes renováveis acabam gerando um sinal positivo diante do mercado internacional e benefícios para a exportação de produtos.

“Dada às exigências crescentes, tanto na União Europeia, quanto nos Estados Unidos, do uso de energias renováveis como uma das formas de descarbonizar as atividades produtivas, existe uma grande tendência de substituição da energia de fonte fóssil por renováveis. Tal fato pode facilitar as exportações baianas da indústria química e dos produtos da minero-indústria”, aponta o secretário.

Bahia é destaque em energia limpa

A Bahia é líder nacional da geração de energia eólica e solar, de acordo com o informe da Coordenação de Fomento à Indústria de Energias Renováveis, da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, atualizado em setembro. O estado tem 241 usinas de energia eólica em operação (6.252 MV de potência), que beneficiam 23 cidades.

Os especialistas explicam que a Bahia se destaca porque possui melhores ventos constantes, estáveis e unidirecionais, além do potencial para parques híbridos (eólica e solar), entre outras coisas.

“Vale salientar que o estado possui os melhores ventos do Brasil com altíssimos fatores de capacidade, ou seja, o índice de aproveitamento da energia dos ventos, com valores médios de 55%, chegando em muitos casos a valores acima de 80%. Com base nos dados da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), no mês de julho de 2022 a Bahia gerou cerca de 2.616 gigawatt-hora (GWh) de energia por fonte eólica e 257 GWh por fonte solar”, destaca o secretário José Nunes.

Segundo a secretaria do Estado, com relação à energia solar, os diferenciais da Bahia são: o potencial para geração distribuída, excelentes níveis de irradiação, variação entre faixas de irradiação anual e geração centralizada. Atualmente, o estado possui 41 usinas de energia solar, que beneficiam oito municípios.

 

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